Sábado, 11 de fevereiro de 2017. Cheguei ao Café São Luiz
quando passava das 10 horas. Naturalmente eu sabia o que iria encontrar: uma
porta fechada, pessoas fazendo perguntas, recordações de nomes, de causos, de
acontecimentos, e lamentos pela perda.
Cruzei com Osório Almeida na calçada do falecido Banerje.
Ele e Jair Navarro (os dois, meus colegas de escritas). Avancei. E sem
dramatização canceriana, avancei de cabeça baixa. Parecia que eu iria encontrar
um corpo morto no chão.
Ao me aproximar do prédio, Everaldo Lopes, solitariamente
sentado, foi me oferecendo a mão e falando em Normando Bezerra. Por um
rapidíssimo momento esqueci a perda do lugar. Depois olhei a porta cerrada e
quase chorei.
Entrei no Café São Luiz, pela primeira vez, em 1972 quando
fui trabalhar no escritório de contabilidade do senhor Expedito dos Santos, no
segundo andar do Edif. Santa Nízia - aquele prédio da esquina das ruas Princesa
Izabel com João Pessoa.
Pela manhã, e a tarde, o patrão me dava dinheiro e eu ia
comprar duas garrafas de "cafezes". Com 11 anos de idade eu era uma
criança muito pequena, não alcançava o balcão, estendia as garrafas para uma
das atendentes.
Timidamente eu ouvia Dr. Varela Barca, Dr. Chisquito, Moacyr
Porto ("ambos" os três sempre de terno de linho branco),
ex-"pádi" Zé Luiz, Cleantho Homem de Siqueira, artistas de diversos
seguimentos, políticos, magistrados, desportistas, militares aposentados,
loucos, tarados "comedores", gente simples. O nível da miscelânea era
realmente maravilhosa. Cada um contando sucessos ou fracassos.
Em 1974, já na Ribeira, trabalhando com o
ex-"pádi" Zé Luiz, ele me aconselhava:
- O Café é um poço do saber. Uma universidade. Procure
aprender por lá.
Segui o conselho e hoje me sinto um "diplomado".
Como citei em textos anteriores, perdi sete anos de minha vida praticando o
mormonismo. Os mórmons não bebem café.
De 1978 até 1996 eu fiquei sem beber café. Foram os piores
18 anos de minha vida. Graça me criticava indignada. Em 1990 voltei a calçada
do Café São Luiz. Mas só para bater papo e aprender com outros frequentadores.
Alguns dos nomes, acima citados, já haviam partido.
Encontrei outros: Francisco Bezerra, Francisco Macedo, Revoredo Netto, Jair
Figueiredo, Ivory, Sebastião Soares, Rodrigues Neto, Edson Aquino, Mário
Sérgio, Palocha, Franklin Jorge, Edmilson Andrade...
Os anos de 1990 foram de muita cultura e contracultura. O
Café sempre foi um ambiente de idéias liberais, mas havia comunistas, à
espreita, que não perdiam a oportunidade de mandar seus recados
revolucionários. Osório sempre foi o principal deles. Vários zines alternativos
circulavam no meio dos consumidores da bebida africana.
Empolgado lancei, em 1991, o meu primeiro trabalho escrito.
Minha mulher odiou e jogo o seu exemplar lixo. Mas não desisti e logo fiz minha
primeira "vítima": George Bush invadiu o Iraque (eu, Osório e Pedro
Grilo, formamos uma "Frente Árabe" na calçada do Café. Éramos motivo
de chacota pelos outros frequentadores. Nossos textos eram de Esquerda e eu fui
logo chutando o "pau da barraca").
Enviei uma Carta Aberta ao embaixador da Síria, em Brasília,
criticando, veementemente, seu governo e alertando para o perigo de seu país
apoiar os Estados Unidos, contra o grande líder iraquiano, Saddam Hussein.
Jamais recebi resposta é o resultado estamos vendo todos os dias na TV.
Em seguida lancei o Zine Alternativo, em forma de revistinha
com seis folhas, "O Potiguar": Editorial, comentários curtos,
enumerados sobre diversos assuntos, e curiosidades. Havia gente que gostava,
havia gente que chamava de "aquela merda".
Pouco depois um frequentador, na maior cara de pau (Natal
ama copiar), criou um Zine Cultural com o mesmo nome. "Matei" o meu e
criei a "Folha Esbórnia". Era um folha, frente e verso. Logo chamaram
de "bula".
Por causa do espaço, fui forçado a escrever em parágrafo
único. Muitas perguntas, muitas críticas, muitas sugestões e foi aí que percebi
que "incomodava". Não deixei mais o hábito de escrever naquele modelo.
Também foi naquela época que "nasceu" o articulista Chico Potengy...
[Chico Potengy]
Texto de 11 de fevereiro de 2017.