Mamãe costuma dizer que "caminho de
doido, não tem errada." Todos os meus amigos sabem que sou o Campeão
Mundial em Pegar Ônibus Errado. O sorridente jovem que aparece nesta
fotografia, ao meu lado, é o inesquecível amigo Enoque Zacarias Sales. O melhor
amigo de minha infância. Apaixonado torcedor do Alecrim Futebol Clube. Isso me
causava uma inveja tremenda. Eu era louco para ser também torcedor do time
"periquito". Achava muito bonito quando ele escalava o time, dando
ênfase ao atacante Vasconcelos e ao zagueiro Walter Cardoso. Eu queria, também,
dizer aquela escalação. Conheci Enoque em 1972, quando chegou na Escola Padre
Miguelinho para ser um escoteiro do Alecrim. Veio para a minha patrulha:
Raposa. Na época morava na rua Luiz Fernandes, Quintas, próximo a Igreja de
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, tendo à frente o Padre Tiago Theisen.
Passamos dois anos brincando muito - de jogo de botão, de times com caixa de
fósforos, batendo pelada na rua. Gostávamos de descer a rua Dr. Mário Negócio
assobiando o Hino Nacional Brasileiro. Éramos bem divertidos juntos. Enoque é
irmão de Cosme (ex-goleiro do Força e Luz, em 1973 - assassinado covardemente
na década de 80), Damião (que foi dono do América das Quintas), Gilvan (lutador
de luta livre). Perdemos contato em 1974. Eu era louco para reencontrar o
amigo. Hoje pela manhã, indo ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Parque
das Dunas, estava na parada do ônibus e deveria ter dado com a mão ao da Linha
75B. Pedi ao da Linha 15-16. Fui descer na UPA de Pajuçara, à três quilômetros
de meu objetivo. Por incrível que pareça, levei no bom humor. Afinal, estava
indo em busca de energia espiritual. Entrando em ruas diversas,
direita-esquerda-direita, literalmente esbarrei com meu amigo, que não me
reconheceu. Eu disse: "Enoque Zacarias Sales!" Com seu largo sorriso
de Louis Armstrong, ele me estendeu a mão e perguntou: "Quem é? Não estou
lhe reconhecendo!" Respondi: "Sou 'Poeta', seu amigo de
infância!" O abraço foi inevitável. E, em poucos minutos, relembramos
muita coisa boa de nosso passado. Disse-lhe que sempre desejei revê-lo, antes
de morrer. Trocamos número de telefone e recebi um honroso convite para almoçar
em sua casa, um dia desses, e conhecer sua família. Foi realmente um momento de
muita alegria e satisfação. E o caminho, por mim tomado, nem foi tão errado
assim.
Chico Potengy
Em tempo: o interessante foi o detalhe
das camisas.
Texto de 13 de novembro de 2019.
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