terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

CAFÉ SÃO LUIZ - UNIVERSIDADE COM SABOR


Sábado, 11 de fevereiro de 2017. Cheguei ao Café São Luiz quando passava das 10 horas. Naturalmente eu sabia o que iria encontrar: uma porta fechada, pessoas fazendo perguntas, recordações de nomes, de causos, de acontecimentos, e lamentos pela perda.

Cruzei com Osório Almeida na calçada do falecido Banerje. Ele e Jair Navarro (os dois, meus colegas de escritas). Avancei. E sem dramatização canceriana, avancei de cabeça baixa. Parecia que eu iria encontrar um corpo morto no chão.

Ao me aproximar do prédio, Everaldo Lopes, solitariamente sentado, foi me oferecendo a mão e falando em Normando Bezerra. Por um rapidíssimo momento esqueci a perda do lugar. Depois olhei a porta cerrada e quase chorei.

Entrei no Café São Luiz, pela primeira vez, em 1972 quando fui trabalhar no escritório de contabilidade do senhor Expedito dos Santos, no segundo andar do Edif. Santa Nízia - aquele prédio da esquina das ruas Princesa Izabel com João Pessoa.

Pela manhã, e a tarde, o patrão me dava dinheiro e eu ia comprar duas garrafas de "cafezes". Com 11 anos de idade eu era uma criança muito pequena, não alcançava o balcão, estendia as garrafas para uma das atendentes.

Timidamente eu ouvia Dr. Varela Barca, Dr. Chisquito, Moacyr Porto ("ambos" os três sempre de terno de linho branco), ex-"pádi" Zé Luiz, Cleantho Homem de Siqueira, artistas de diversos seguimentos, políticos, magistrados, desportistas, militares aposentados, loucos, tarados "comedores", gente simples. O nível da miscelânea era realmente maravilhosa. Cada um contando sucessos ou fracassos.

Em 1974, já na Ribeira, trabalhando com o ex-"pádi" Zé Luiz, ele me aconselhava:

- O Café é um poço do saber. Uma universidade. Procure aprender por lá.

Segui o conselho e hoje me sinto um "diplomado". Como citei em textos anteriores, perdi sete anos de minha vida praticando o mormonismo. Os mórmons não bebem café.



De 1978 até 1996 eu fiquei sem beber café. Foram os piores 18 anos de minha vida. Graça me criticava indignada. Em 1990 voltei a calçada do Café São Luiz. Mas só para bater papo e aprender com outros frequentadores.

Alguns dos nomes, acima citados, já haviam partido. Encontrei outros: Francisco Bezerra, Francisco Macedo, Revoredo Netto, Jair Figueiredo, Ivory, Sebastião Soares, Rodrigues Neto, Edson Aquino, Mário Sérgio, Palocha, Franklin Jorge, Edmilson Andrade...

Os anos de 1990 foram de muita cultura e contracultura. O Café sempre foi um ambiente de idéias liberais, mas havia comunistas, à espreita, que não perdiam a oportunidade de mandar seus recados revolucionários. Osório sempre foi o principal deles. Vários zines alternativos circulavam no meio dos consumidores da bebida africana.

Empolgado lancei, em 1991, o meu primeiro trabalho escrito. Minha mulher odiou e jogo o seu exemplar lixo. Mas não desisti e logo fiz minha primeira "vítima": George Bush invadiu o Iraque (eu, Osório e Pedro Grilo, formamos uma "Frente Árabe" na calçada do Café. Éramos motivo de chacota pelos outros frequentadores. Nossos textos eram de Esquerda e eu fui logo chutando o "pau da barraca").

Enviei uma Carta Aberta ao embaixador da Síria, em Brasília, criticando, veementemente, seu governo e alertando para o perigo de seu país apoiar os Estados Unidos, contra o grande líder iraquiano, Saddam Hussein. Jamais recebi resposta é o resultado estamos vendo todos os dias na TV.

Em seguida lancei o Zine Alternativo, em forma de revistinha com seis folhas, "O Potiguar": Editorial, comentários curtos, enumerados sobre diversos assuntos, e curiosidades. Havia gente que gostava, havia gente que chamava de "aquela merda".

Pouco depois um frequentador, na maior cara de pau (Natal ama copiar), criou um Zine Cultural com o mesmo nome. "Matei" o meu e criei a "Folha Esbórnia". Era um folha, frente e verso. Logo chamaram de "bula".


Por causa do espaço, fui forçado a escrever em parágrafo único. Muitas perguntas, muitas críticas, muitas sugestões e foi aí que percebi que "incomodava". Não deixei mais o hábito de escrever naquele modelo. Também foi naquela época que "nasceu" o articulista Chico Potengy...

[Chico Potengy]

Texto de 11 de fevereiro de 2017.


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