Antes de contar a história do “ator” canino, um preâmbulo se faz
necessário para eu dizer que todos os meus “chegados” sabem de minha paixão por
cães. Tive a sorte de ter casado com alguém que os amava
mais do que eu. Sempre que posso, gosto de contar fatos ligados ao mundo
canino, que, aliás, é intimamente ligado ao mundo dos humanos. O filme “Rastros
de Ódio” (The Searchers/1956) é uma obra prima do mestre John Ford. Creio tê-lo
assistido mais de 70 vezes. Já cheguei a vê-lo cinco vezes no mesmo ano. Sou
fascinado pela estória, a fotografia, a trilha sonora, o elenco e, claro, a direção.
Ford é o meu diretor de cinema preferido - entre os americanos... O filme,
ambientado no Texas, no ano de 1868,conta a história de Ethan Edward (John
Wayne), que passa sete anos em busca de sua sobrinha, Debbie (Lana Wood),
raptada pelo terrível “Scar” (Henry Brandon), chefe de um grupo de índios
comanches. Entre os humanos, ditos “civilizados”, circula este cãozinho que
aparece nas fotografias que ilustram este texto. Recentemente fiz uma busca
danada para identificar sua raça. Perguntei no Facebook, no whatsapp, ninguém
soube responder, exceto a prima de Wilson Roberto, que muito me ajudou
dizendo se tratar de um cão Bobtail. Fui ao Google ver fotos da raça e
achei muito diferente. “O bichinho do filme está meio rabugento”, questionei.
“mas, pela época contada no filme, às dificuldades vivendo em terras áridas,
pode ser que a equipe de maquiagem tenham feito alguma mudança no animal”,
frisei. No momento que enviei o meu comentário, coincidiu com a chegada da
mensagem de Wilson, que dizia: “...O do filme não poderia aparecer tão bonito
quanto o dessas fotos, porque, afinal, estava no Texas no ano de 1868. A agua
não deveria ser fácil.” Rindo, por causa da coincidência, respondi ao amigo: “Pensamos
juntos. Vou usar os dois comentários aqui no meu texto. Wilson reclamou o
“premio” para a sua prima Daniela, que foi decisiva na identificação do animal,
que muitos pensaram tratar-se de um Pug. Finalizei questionando se eu realmente
havia prometido o tal premio... O cãozinho da família Edwards aparece na
primeira cena, quando Ethan, voltando da Guerra de Secessão, se aproxima da casa
do irmão. Toda a família está no alpendre lhe aguardando. “Chris” late sua desconfiança.
Há quem diga que, ao contrário de que imaginamos, ao adotamos um cão, na verdade
é ele quem “adota” alguém na família para se sentir confiante. Com isso, subentende-se
que Debbie fora a escolhida, pois a maioria de suas cenas (em pouco mais do
minuto vinte e três da película rodando), aparece sempre ao lado da criança. Exceto
quando alerta a família da aproximação dos peles-vermelhas, mas isso já no fim
do dia seguinte. Depois da janta, quando todos estão se recolhendo para dormir,
Ethan senta no batente a entrada da casa. “Chris” chega balançando a calda,
dando, finalmente, suas “boas-vindas”. Provavelmente já sente que pode confiar
naquele homem estranho. O ex-confederado é um homem terrivelmente amargurado e só,
mas, lhe faz um afago. O pequeno peludo aceita o carinho e senta ao lado do até
então desconhecido. Ethan não imagina que, no dia seguinte, é aquele pequeno
animal quem lhe dá a primeira pista do paradeiro da menina. Sim, foi ele o único
a testemunhar o rapto. Por isso seus latidos levan Ethan até o alto do pequeno
cemitério da família, onde repousa sua mãe, muito provavelmente - pois o roteirista
do filme, Frank S. Nugent, só lembrou-se de nos dizer que a avó da criança
está enterrada naquele local. “Chris” late, desesperadamente até Ethan chegar
onde ele estar. Junto a lápide a menina deixou cair sua boneca e um pequeno
avental. Depois dali, há um corte e a
cena já é a do enterro da família do ex-soldado. Não o vemos mais o cãozinho “Chris”. Eu
muito desejaria que ele tivesse sido aceito pela família Jorgensen, mas, não é
bem isso o que aconteceu, pois, em nenhum momento reaparece em cena. Nem no
fim da estória, quando Ethan volta com a agora adolescente Debbie (agora vivida
pela atriz Natalie Wood). Nunca saberemos o destino que tomou aquele pequeno
animal. Lamentavelmente, nem Nugent, muito menos Ford se preocuparam em dar
continuidade a historia do pequeno “Chris”, afinal, ele foi muito importante na
busca, e achado, de Debbie. – [chico potengy]
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