sábado, 16 de julho de 2016

JOÃO BATISTA - O APÓSTOLO DO NORDESTE



Agora me dirijo aos amigos protestantes. Na tarde de ontem encontrei um amigo, ali no Grande Ponto. Há anos não via aquele senhor. Ele é evangélico da igreja Assembléia de Deus. Eu o conheci no começo do ano de 1978. Naquele tempo Gilberto, outro amigo, me levava nos cultos de sua igreja aos domingos. Acabei conhecendo muita gente. Dentre elas, o pastor João Batista da Silva (1905-1999). Filho de uma família pobre que o queria padre. Foi funcionário da Prefeitura Municipal de Natal. Em 1926 abraçou a fé protestante. Em 1960 recebeu o chamado para presidir as Assembléias de Deus no Estado do Rio Grande do Norte, depois de servir na Bahia e na Paraíba. E dedicou-se até 1993. Ele foi tão importante na evangelização que foi consagrado, por unanimidade entre as igrejas protestantes, como "o Apóstolo do Nordeste". Aliás, em minha opinião, omitir seu nome, e sua contribuição à história religiosa do Rio Grande do Norte, e de parte do país, do livro “Natal 400 Nomes”, por ocasião dos 400 Anos da Fundação da Cidade do Natal, foi um erro gravíssimo. Creio que o que de fato houve foi o que podemos chamar de “intolerância religiosa” por parte dos organizadores do livro. Ele era um homem negro, alto, às vezes risonho, às vezes muito sério. Com uma vida toda dedicada ao evangelho, tinha uma zelosa dedicação ao "rebanho". Todas as vezes que eu o vi estava sempre de terno, gravata e um chapéu de massa, de cor cinza. Morava na Av. Presidente Sarmento (Avenida 4), Alecrim. Visitava suas "ovelhas", de Natal, ou das cidades do RN, em uma veraneio da Chevrolet. Mesmo não sendo de sua fé, tive vários momentos com aquele homem, ouvindo suas pregações, aconselhando os membros ou mesmo dando carão, quando via algo que considerava errado. Lembro-me de um dia em que proibiu um jovem do trompete ensaiar com o pessoal das guitarras. O trompete era da banda de música. As guitarras, do Conjunto Vitória. Não deveriam misturar os instrumentos... João Batista ouvia os membros em silêncio. Gostava de apoiar as mãos acima da barriga, com os dedos entrelaçados, girando os polegares no sentido de baixo para cima. Ao longe os “fofoqueiros” ficavam prestando atenção se ele mudaria a rotação - de cima para baixo. Era sinal que a confissão havia dado errada. Ele gostava de avivar a igreja dizendo: "Que todo o povo diga amém!" A igreja se exaltava num só coro: "AMÉM!!!" Sorrindo, ele completava: "'Alelóia'!" Uma noite de domingo João Batista contou uma experiência de quando era menino. Morando nos arredores de Ceará-Mirim, Seu pai havia lhe dado um saco com milho e a tarefa de plantá-los em covas já preparadas. Acontece que ele queria brincar com seus amiguinhos. A saída foi jogar punhados de grãos nas covas, ao invés de cinco ou sei sementes. Seu pai estranhou ele voltar cedo do roçado. Quando chegou o tempo da colheita, sua "malandragem" foi descoberta. O milharal estava todo alterado, com espigas "aleijadas". O pastor contou que seu pai foi com ele no campo semeado e lhe mostrou a anomalia da plantação. Já em casa, o fez e se ajoelhar. O velho levantou uma chibata de "couro cru" para golpeá-lo nas costas. Mas, ao invés de baixar o braço com violência, desceu como em câmera lenta, encostando o látego em seu ombro com suavidade. "Foi a maior surra que levei em toda a minha vida", dizia ele, cobrindo o rosto com as mãos, carregando ainda - com mais de 70 anos - sua vergonha. Lembrei ao amigo essa história, e falei do "culto administrativo" (quando o pastor prestava contas a igreja - o que entrou e o que saiu.), o amparo as viúvas, o Hospital Evangélico no Alecrim, e sua casa aberta para os necessitados... O amigo riu com semblante triste, possivelmente de saudade, e me disse: "Meu 'irmão', tudo isso morreu com o pastor João Batista"... - chico potengy



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