quinta-feira, 26 de novembro de 2015

WANDICK X - MATANDO A SAUDADE NA RIBEIRA


Hoje pela manhã fui ao bairro da Ribeira. Na volta do compromisso passei em Wandick... Sinceramente, meus adoráveis e pacientes amigos, para mim, não é nada fácil escrever: “passei em Wandick”... Meu amigo Wandick “inventou” de morrer (como ele dizia de alguém conhecido!) em 03 de agosto do ano passado – seis dias antes de completar 81 anos. Eu não voltei lé desde aquela perda. Ruth, sua filha, estava. Me ofereceu um sorriso, mas, percebi tristeza em seu olhar... Não é nada fácil perder quem amamos. Principalmente pessoas como ela, ligadíssima ao pai. Tanto como filha, bem como profissionalmente. Ruth seguiu seu oficio: é ourives de “mão cheia”, como diria mamãe. Altamente profissional na arte do ouro. Eu fiquei mais de uma hora conversando com ela. Tema principal: Wandick e suas “coisas”. Por exemplo: no mês de novembro ele incentivava os amigos visitar o urologista para o exame de preventivo de próstata. E seu conselho era franco e de uma “sutileza”, só comparado ao coice de uma mula: “Existe o médico de olho, e o de cu. É a mesma coisa”! Assim mesmo. Simples, não? Foi por causa de Wandick que eu abri mão de, quando morrer, ir para o céu - “César, me responda uma coisa: no céu tem mulata do Sargentelli? Eu morrendo de rir... “César, tem forró de Luiz Gonzaga, no céu? O que é que gente como nós vai fazer no céu, um lugar onde só tem ‘minino’ dedilhando uma lira, e velhas rezando?” Eu ria de me acabar, com a cara série dele olhando para mim. Era humanamente impossível visitar Wandick e não sair rindo. Ele mexia com vivos, com mortos e quem mais ele se lembrasse. Nossa, relembramos tantas situações engraçadas. As paredes do estabelecimento de Wandick exibem muitas fotos. Amigos seus de longa data. Muitos deles eu conheci. Gente que fez nome no bairro da Ribeira. Fiz uma cópias e descreverei algumas delas... – [cp]

Luiz é um amigo e colega de Café São Luiz. Ele é concunhado de Wadick. Também é ourives. Recusava-se a entrar nessa “galeria”: “Tá doido? Aí só tem gente que já morreu ou está com os dias contados”... Wandick dizia: “o mais novo, aqui, morreu com 80 anos”...
"Santinho" para a Missa.
A arte de Wandick na imprensa de Natal.
A história que vou contar é para quem tem fé e acredita em milagres. Wandick não era um homem religioso. No começo dos anos 90 ele foi ao Recife para um cirurgia do coração. No pós operatório, recebeu a visita de um homem. Ele não sabe por onde entrou, nem por onde saiu depois que se foi. Aquele ser misterioso disse apenas: “Por que você não faz a mesma promessa que seu irmão fez?” Wandick lembrou-se que há muitos anos, um de seus irmãos havia feito uma promessa com Santo Antônio – que, se alcançasse a graça, iria de São Mamede a Patos (ambas na Paraíba) a pé, reverenciando o santo em uma capelinha. Wandick fez a promessa e voltou para casa inteirinho, sem complicações cardíacas. Depois repetiu a viagem do irmão. Essa imagem foi colocada em seu estabelecimento. O quadro, mostrando a Igreja do Rosário dos Pretos (e a ponte Newton Navarro) foi presente do vizinho, o artista plástico Flavio Freire.
Da esquerda para a direita: Wandick, um desconhecido, para mim, Ruth, seu Assis Gomes e Jessé – o fotografo oficial de Wandick. Esse seu Assis faleceu em 2012, se não me falha a memória. Ele foi um dos primeiros proprietários de ônibus urbanos em Natal. Também funcionário da prefeitura. Foi uma das pessoas mais educadas que tive o privilegio de conhecer. Falava com mansidão e JAMAIS(!) pronunciou um palavrão, ou falava mal de alguém. Acontece que Wandick provocava o pobre homem, mas, nada de negativo, sobre o próximo, saia de sua boca. Que pessoa fantástica! Ele me cumprimentava como se estivesse diante da maior autoridade tupiniquim que jamais existiu...
Da esquerda para a direita: o filho de seu Júlio César (de César e Cia - um dos estabelecimentos mais importantes do bairro da Ribeira nos anos 60/70. Ainda em funcionamento), Luiz ("carnaval") Gonzaga, Wandick, um desconhecido, para mim, Dinarte e Ruth.
Pedi a Ruth para repetir um gesto de seu pai: Quando chegava alguém e perguntava sobre os fotografados, Wandick pegava esse cabo de vassoura e ia contando a vida de um por um. Quando não sabia, inventava... E sempre aumentava 10%...
Ruth Brito: uma artista artesanal na arte de fazer joias. De suas mãos nascem belíssimas peças, que enfeitas pescoços, braços e dedos do natalense de bom gosto...

Fragilizada, com sua perda, Ruth trabalha sozinha - com as boas lembranças que o pai deixou...
Esta foto tem 17 anos. Jessé apareceu e quis fotografar Wandick. Ele disse: "Jessé, se você me fizer uma foto sem essa 'papada de peru', eu lhe dou uma máquina nova!" O homem conseguiu, mas, Ruth teve de puxar a pele da nunca do pai, que teve uma crise de riso. Jessé, um artista na arte de fotografar, conseguiu ganhar sua nova máquina.



2 comentários:

  1. Wandik foi um dos amigos que tive em breve oportunidades que na ensolarada Natal. Pessoa inesquecível, riso fácil, inteligente, sem papas na língua, Wandik era muito divertido, sepreocupava com as pessoas, queria saber cada detalhe da sua vida, Wandik era muito divertido - eu adorava seu CAFÉ - tenho várias peças feitas por ele, um profissional incrível, Ruth por certo teve um pai adorável. Nesse momento expresso meus votos de pesar a todos os familiares de Wandik e os inúmeros amigos no qual me incluo.

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  2. Wandik foi um dos amigos que tive a oportunidade em conhecer em várias vezes que estive em Natal. Era um sujeito respeitoso, um ser político, não devia nada a Câmara Cascudo no contexto histórico, um sujeito antenado, bem relacionado. WANDIK foi um ser que posso seguramente agrega todos os bons adjetivos, um pai exemplar e um amigo adorado por todos, sentirei saudades de Você Wandik, espero que GADU o tenha acolhido no seu eterno lar. Descanse em paz - meus sentimentos e votos de pesar aos familiares e amigos.

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