Esses
dias encontrei este post e me lembrei de meu anjo da guarda. Foi ele quem me
ajudou a tirar minha Carteira de Motorista. Aprendi a dirigir, com um amigo, em
1975. Eu tinha 14 anos. O nome dele era Waldomiro, ponta esquerda bicampeão
pelo Alecrim Futebol Clube – 1967/68. Ele costumava se apresentar, dizendo: “Meu
nome é Waldomiro Guimarães. Descendente de português, nascido em Recife,
Pernambuco, Brasil. E trabalho na empresa que mais cresce que é a Trans-Natal”.
Um dia abri o portão da garagem da empresa para ele entrar com o ônibus número
55, modelo da “Caio Norte”, da linha Ceasa-Brasília Teimosa. Freou bruscamente,
fazendo graça, ao meu lado. Abriu a porta do veiculo e, morrendo de rir, me perguntou,
apontando: “Baixinho, já sabe botar este ônibus naquele dique?” Acanhado,
respondi que “não”. “Pois eu vou lhe ensinar
a botar...”, prometeu. Na verdade, jamais botei um ônibus sobre um dique, mas,
aquele homem me ensinou a chegar perto. Eu entrava na empresa às 4H00 da manhã.
Saíamos em direção à Ceasa. A Av. Capitão-Mor Gouveia era calçada com paralelepípedo,
entre as Av. Rio Grande do Sul e Interventor Mario Câmara (Av. 6), na Cidade da
Esperança. Dali até a Av. Prudente de Morais era só areia. Aprendi a dirigir
naquele trecho arenoso. Nos primeiros dias foi muito difícil, mas, Waldomiro
era paciente. Sentado em um banco às minhas costas, me ensinava sorrindo e
dando porradas na minha perna esquerda, para eu tirar o pé de sobre a
embreagem enquanto dirigia. Tudo que sei, no volante, foi com ele que aprendi
(por incrível que pareça foi, também, com ele que aprendi como nasce uma
criança em parto normal. Lembro-me que eu fiquei horrorizado... Lá em casa esse
assunto era tabu absoluto!). Depois disso dirigi vários carros, mas, sem
carteira. No exército fui reprovado num teste para dirigir caminhão “Reo”. Em
São Paulo jamais peguei em um carro. Aliás, eu tinha até medo do transito de
lá. Era muito diferente daqui. Quando as pessoas não entendiam, eu dizia: “Em
Natal, na faixa da esquerda viajam ciclistas, motoqueiros, carroceiros, atletas
correndo, casal namorando enquanto dirige e gente que não sabe que aquela faixa
é de velocidade”. Em geral o pessoal não compreendia. Curiosamente não houve
evolução. Ou seja: ainda hoje é assim! Pois bem, em outubro de 1985 me apareceu
uma oportunidade de trabalho para dirigir o carro de uma madame. É horrível
dirigir para gente que não conhece regra de transito, mas, fiquei o quanto
pude. Antes, fui às pressas ao DETRAN, na Cidade da Esperança, fazer minha
habilitação. Dei entrada na papelada e depois fazer o teste de volante. Naquela
época era feito do lado de fora do prédio. Os carros, de aluguel, ficavam estacionados
na Av. Paraíba. Aluguei um fusca. Me
custou cinco mil cruzeiro. Era o único dinheiro que eu tinha. Aquela nota com a
foto do ex-presidente Castelo Branco estampada - creio que 50 reais, ao valor
de hoje. O carro, era uma lástima. Contudo, Deus, em sua infinita bondade, e
misericórdia, não me abandonou. Quando puxei a porta ela quase ficou na minha
mão. Sentei num banco todo rasgado. O dono do carro, pelo lado de fora, fechou
a porta levantando um pouco e prendendo um arame para segurá-la. Os pedais sem
borrachas, o carro imundo. O câmbio era um ferro sem a cabeça plástica. Pisei
na embreagem, meu pé sumiu. Juro que fechei os olhos... “Meu Deus do céu, me socorra,
por favor”, supliquei em silêncio. Dois funcionários do DETRAN entraram para
avaliar meu desempenho. Saí dirigindo por aquelas ruas do bairro que tem nome
de cidades paraibanas: Princesa, Campina Grande, Bananeiras,e saí na Adolfo Gordo,
voltando ao ponto de partida, cerca de dez minutos depois. Os dois homens,
atentos aos meus movimentos: pisca alerta, freadas moderadas, entrada para a
direta, entrada para esquerda. De repente: “Pare”! Ordenou o que estava
sentado no banco de trás. Dei seta para à direita e parei mais a frente. Coisa
de uns 30 metros. Ele perguntou por que não havia parado antes. Respondi que
precisava estar seguro de onde iria parar. Naquele movimento todo estanquei
aquele maldito fusquinha duas vezes. Felizmente um deles reconheceu a
deficiência da embreagem. Ao nos aproximarmos do fim do teste o homem de trás
me avisou: “Vai estacionar ali dentro”. Apontou o local onde havia dois finos
ferros, marcadores de baliza, encravados em bases de concreto pintados de
amarelo. Gelei! “Como vou entrar aí com esse carro estancando, ‘meupaidocéu’?”,
pensei. Fui salvo pelo meu Anjo da Guarda, que assumiu o volante. Literalmente Ele
foi à frente, parando a porta ao lado do ferro da frente. Deu marcha à ré e
entrou de vez. “Perfeito!”, gritou animado o sujeito no banco traseiro, enquanto
o outro escrevi em meus documentos sobre uma prancheta. Confesso que eu estava sem acreditar que havia
realizado tamanha proeza. Sim, tenho absoluta certeza que foi aquele Ser Divino
que veio me ajudar, porque, nesses 31 anos, com Carteira de Habilitação, jamais
estacionei com tanta precisão... Obrigado meu Anjo da Guarda! – [chico potengy]
Nenhum comentário:
Postar um comentário