segunda-feira, 11 de abril de 2016

1º DE ABRIL - DIA DA VERDADE

Eu quis escrever este texto no dia primeiro de abril. Mas, me faltou inspiração. A garota da foto é Maria de Fátima da Silva. Telefonista da TELERN – Telecomunicações do Rio Grande do Norte - na cidade de Campo Redondo. Naquela fatídica noite de 1º de abril de 1981, foi ela quem deu o alarme. Chovia forte nas cabeceiras do rio Trairi. O volume das águas saiu destruindo tudo rio abaixo. Quando o povo de Campo Redondo percebeu, as águas haviam destruído a ponte de acesso a cidade. Literalmente a ponte saiu de cima das pilastras e desceu os acidentes geográficos da “Serra do Doutor”, em direção a Santa Cruz. Foi aí que a jovem telefonista imediatamente ligou para as autoridades de Santa Cruz, dizendo que a ponte havia descido nas águas do rio. Parecia absurdo. Parecia..., 1º de abril. As águas chegaram a "capital do Trairi" levando tudo em roldão. Açudes rebentavam. Estradas partidas ao meio. Torres de alta tensão caindo. Um verdadeiro caos. Boa parte de Santa Cruz foi destruída. Por sorte, o povo teve tempo de sair de suas casas. Era uma noite de quarta-feira. Passava das 20 horas quando Natal se apagou. Eu estava na casa de Raimundo Aureliano, na Avenida 11 (Rua Manoel Miranda), no Alecrim. Estávamos planejando um acampamento escoteiro na área do Colégio Agrícola de Jundiaí, em Macaíba. Eu morava a uns cinco quilômetros, mas, não tive dificuldade de chegar a minha casa. Bem diferente de hoje... No outro dia, como chefe de escoteiros, fui convocado para auxiliar a equipe da PRONAV – Programa Nacional de Voluntariados - (órgão do governo do estado, então comandado pela primeira-dama Wilma Maia, e depois aquela instituição passou a se chamar "Meios", destruída no governo de Rosalba Ciarlini) no controle de recebimento de donativos. Tudo arrecadado era encaminhado para o Palácio dos Esportes. Lá separávamos cada tipo de doação - roupas, sapatos, alimentos, colchões, remédios. Natal foi muito solidária. O domingo, dia 05, foi um dia de muitas experiências para mim. Logo cedo a assistente social, responsável pela coordenação dos trabalhos, me entregou um endereço onde eu deveria pegar umas doações. Uma Kombi ficou a minha disposição. O motorista me perguntou se podia passar na casa de sua namorada, na Rua Palmyra Wanderley, Quintas. Quando lá chegamos, um homem, em um fusca, entrou na rua em alta velocidade, colidindo com a traseira de um caminhão estacionado. Uma mulher, que vinha no banco da frente, rebentou a cara no pára-brisa do carro. Resolvemos levá-la para o Hospital Walfredo Gurgel. No caminho, no cruzamento das Avenidas Bernardo Vieira com Jaguarari, outro carro, em alta velocidade, tentou desviar da fila de gente recebendo água de um carro-pipa (a cidade estava sem energia. As bombas d'água da CAERN – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte - estavam paradas), cruzou o canteiro e acertou dois homens numa moto. Levamos um dos acidentados, junto com a garota, e um jipe dos Fuzileiros Navais, o outro. O rapaz que levamos morreu quase nos meus braços. Entregamos, com muita dificuldade, no Hospital, uma vez que estava morto e deveria ser levado para o ITEP – Instituto Técnico e Científico de Polícia. Graças à ação do oficial fuzileiro, o corpo do jovem foi recebido sem mais burocracia. Fomos lavar a Kombi que estava com o assoalho todo ensangüentado. Chegamos ao Palácio dos Esportes já passando das 14 horas. A assistente social me perguntou se eu poderia viajar até Santa Cruz. Estavam precisando de voluntários para receber os donativos. Ela explicou que a PRONAV queria um controle e relatório das entregas. Eu disse que precisava ir a minha casa pegar muda de uniforme. Ela autorizou o rapaz da Kombi a ir comigo. Na volta, Wilma Maia nos aguardava para a viagem. Cinco chefes de escoteiros foram transferidos para Santa Cruz aquela tarde: eu, Gomes, Anchieta e dois que não lembro os nomes, pois pertenciam a outros grupos. Aliás, os dois voltaram no outro dia. Tinham outros compromissos. Dona Wilma viajou em um opala de quatro portas, numa cor meio rosa ou alaranjado. Meus companheiros foram de C-10 e eu viajei em um caminhão baú do Supermercado Nordestão, lotado de donativos. Dona Wilma nos apresentou a esposa do prefeito, dizendo: "Esse pessoal é meu. Não quero que falte nada pra eles". Não faltou. Passamos dez dias naquela cidade: armando barracas militares, organizando filas, entre outras atividades. Na terça-feira pela manhã, Santa Cruz recebeu a visita do excelentíssimo senhor ministro do Interior, Mário Andreazza, ao lado do então governador Lavoisier Maia. Simpático, cumprimento autoridades, os militares e nós escoteiros, parabenizando nosso trabalho. O ministro foi dar um apoio moral. Foi ver o povo sofrido e os estragos causados pela cheia. Foi como representante do presidente da República, João Batista Figueiredo. Foi ouvir, falar e assinar convênios para restaurar a cidade quase toda destruída. Para mim foram dias inesquecíveis. De muito trabalho e experiência de vida... – [cp]


Em tempo: todas as fotos que ilustram este texto eu "chupei" do Blog TOK de História - de Rostand Medeiros. Sem suas fotos meu texto teria ficado pobre.







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