sábado, 16 de maio de 2015

AGRADÁVEL ENCONTRO II (OU FLAGRANTE DA VIDA REAL)

Eu já apresentei, aos leitores, o meu amigo "Rábula" (Arnildo Albuquerque)... Pense numa pessoa agradável... E avisei que, conversar com ele, é correr o risco de se morrer de rir. Dizem que a arte imita a vida, ou a vida imita a arte. O cara estava com muita dor de dente, queixo inchado, um pano amarrado de baixo para cima da cabeça. Gemia que era um horror. Um amigo chegou e disse:

- Rapaz, tenho algo a lhe dizer e não sei como...

- Diga logo! Ai, ai, ai!

O outro, diante da gravidade do acontecido e o sofrimento físico do amigo, não sabia o que fazer. Ou como fazer. Mas, por fim deu a notícia.

- A sua sogra acabou de morrer.

O homem segurou o queixo inchado com as duas mãos, e choramingando, protestou:

- Porra, eu sofrendo essa dor terrível e você me fazendo rir?

Comigo foi quase igual. Só faltou o pano. Ontem, quando sentei no banco da mal iluminada Praça Padre João Maria, Cidade Alta, passava das 18 horas. Voltava do dentista com muita dor. O amigo estava lá de braços cruzados. A humanidade toda está acompanhando meu sofrimento, há dias, com o tratamento de um dente. Pois bem, fui ao dentista quarta-feira. Ele limou o "artista" até o final. E nisso, a ponta da minúscula ferramenta feriu a carne. Lá no finzinho. No que Dr. Modesto fechou com o curativo - previsto para ser retirado na próxima quarta-feira, o invisível ferimento não me deixou dormir. Pela manhã doía muito. Há tarde estava insuportável. Cheguei ao Edifício Barão do Rio Branco, pulando de dor. Na volta encontrei o "Rábula" na praça. Eu não disse nada a ele. O assunto começou com a grandiosidade do paraibano Assis Chateaubriand (1892-1968) e, depois, para variar, "descambou" para Cascudo. Foi aí que eu vivi a estória daquele homem que perdeu a sogra... É horrível uma crise de riso com dor de dente. Arnildo, contou que, certa vez, Luiz da Câmara Cascudo foi à uma apresentação de fandango. Os homens dançavam e cantava. Numa parte da música havia a palavra "ondas do mar". Acontece que esse pessoal, vem de comunidades simples. A maioria, analfabetos. De mondo que eles todos diziam: "onhindas" do mar. O "mestre" do folguedo parou tudo e gritou:

- Peçuá, ta tudo errádu! Cuma é qui ocês canta dêci geito? Na frente do ômi qui vei aqui pristigiá nóço trabaio?! Num é "onhindas". É ôndegas! Ôndegas! – fcésar


Texto de 15/05.


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