Eu já apresentei,
aos leitores, o meu amigo "Rábula" (Arnildo Albuquerque)... Pense
numa pessoa agradável... E avisei que, conversar com ele, é correr o risco de
se morrer de rir. Dizem que a arte imita a vida, ou a vida imita a arte. O cara
estava com muita dor de dente, queixo inchado, um pano amarrado de baixo para
cima da cabeça. Gemia que era um horror. Um amigo chegou e disse:
- Rapaz,
tenho algo a lhe dizer e não sei como...
- Diga
logo! Ai, ai, ai!
O outro,
diante da gravidade do acontecido e o sofrimento físico do amigo, não sabia o
que fazer. Ou como fazer. Mas, por fim deu a notícia.
- A sua
sogra acabou de morrer.
O homem
segurou o queixo inchado com as duas mãos, e choramingando, protestou:
- Porra,
eu sofrendo essa dor terrível e você me fazendo rir?
Comigo foi
quase igual. Só faltou o pano. Ontem, quando sentei no banco da mal iluminada
Praça Padre João Maria, Cidade Alta, passava das 18 horas. Voltava do dentista
com muita dor. O amigo estava lá de braços cruzados. A humanidade toda está
acompanhando meu sofrimento, há dias, com o tratamento de um dente. Pois bem,
fui ao dentista quarta-feira. Ele limou o "artista" até o final. E
nisso, a ponta da minúscula ferramenta feriu a carne. Lá no finzinho. No que
Dr. Modesto fechou com o curativo - previsto para ser retirado na próxima
quarta-feira, o invisível ferimento não me deixou dormir. Pela manhã doía
muito. Há tarde estava insuportável. Cheguei ao Edifício Barão do Rio Branco,
pulando de dor. Na volta encontrei o "Rábula" na praça. Eu não disse
nada a ele. O assunto começou com a grandiosidade do paraibano Assis
Chateaubriand (1892-1968) e, depois, para variar, "descambou" para
Cascudo. Foi aí que eu vivi a estória daquele homem que perdeu a sogra... É
horrível uma crise de riso com dor de dente. Arnildo, contou que, certa vez, Luiz
da Câmara Cascudo foi à uma apresentação de fandango. Os homens dançavam e
cantava. Numa parte da música havia a palavra "ondas do mar".
Acontece que esse pessoal, vem de comunidades simples. A maioria, analfabetos.
De mondo que eles todos diziam: "onhindas" do mar. O
"mestre" do folguedo parou tudo e gritou:
- Peçuá,
ta tudo errádu! Cuma é qui ocês canta dêci geito? Na frente do ômi qui vei aqui
pristigiá nóço trabaio?! Num é "onhindas". É ôndegas! Ôndegas! –
fcésar
Texto de
15/05.
Grande Arnildo
ResponderExcluirGrande Arnildo
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