(Igreja do Rosário)
Amigos,
Morando em Natal há 50 anos, acreditam que foi só no último dia 30 de setembro
que eu entrei na Igreja do Rosário? Pois acreditem! E foi por acaso. É que ela
vive permanentemente fechada. Apurei que só há missas aos domingos, pela manhã,
ou em ocasiões especiais - como naquela noite - onde se comemorava os seus 300
anos de construída. Também fui informado que é freqüentada pela elite da
capital norte-rio-grandense (um paradoxo da história!). A Igreja do Rosário, como é mais
conhecida, é, atualmente, o segundo prédio mais antigo (vivo) em Natal (o
primeiro é o Forte do Reis Mago, que teve o seu início da construção em 1612, e
concluído em 1622) – sua inauguração se deu em 2 de julho de 1714.
Sobre esta linda igrejinha, escreveu o
mestre Luiz da Câmara Cascudo, em seu Livro “História da Cidade do Natal”: “A
Igreja de Nossa Senhora do Rosário é o mais humilde dos templos dentro da
cidade do Natal, pequenina, pobre, com sua torrezinha quadrada, ao gosto
melancólico dos velhos oratórios, passa sem registros nas crônicas de outrora.
Com seu ar de cape linha rural, parece deslocada do ambiente, pedindo a moldura
viva dos canaviais os rumores triunfantes das moendas movidas no lerdo passo
das juntas de bois mansos. É a Igreja bem mais situada. Erguida num cômodo,
recebe o primeiro olhar do rio. Mas uma vista serena à sua pobreza silenciosa
denuncia a antiguidade da construção. É o tipo da Igreja primitiva, o simples caixão,
com nave, sem transepto, e a torre, mais convencional que útil. Em fins de 1706
não existia.
Antônio Henrique de Sã,
a três de novembro de 1706 requeria ao Senado da Câmara, uns chãos explicando
que "na rua fronteira se quer fundar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário,
quer ele que Vossas Mercês lhe concedam por data as sombras que ficam das
testadas da dita Senhora" Havia, evidentemente, um terreno reservado para
ereção da Igreja, dedicada à Padroeira dos pretos, escravos ou libertos. Não
deparei outro sinal posterior até 1714, a dois de julho de 1714 a Igreja está
pronta e denominada a rua.
O vigário do Natal,
Padre Dr. Simão Rodrigues da Sã, pede ‘terras devolutas defronte do Cruzeiro da
Igreja de Nossa Senhora do rosário, indo pela estrada que vai desta cidade para
a ribeira’, daí em diante a Igreja é citada sempre nas petições ao Senado da
Câmara. [...] Em 1714 há uma doação de chãos à Irmandade, entre 1706 e 1714
nada encontrei. A Igreja é, salvo documento em contrario,
de 1713 ou 1714, antes de julho é a nossa segunda Igreja mais antiga depois da
Matriz.” –
Cascudo omitiu (por razões que desconheço) a verdadeira
razão da existência desta igreja: os senhores brancos iam à missa na Matriz –
ali próximo. Os escravos participava da solenidade eclesiástica pelo lado de fora. Não podiam entrar
(absurdo!) no recinto de fé. Então, alguém teve a brilhante ideia de construir um
templo para reunir, em oração, a comunidade negra da Cidade dos Magos.
Agora vai a minha “pedrada”: o ano passado a
nação brasileira recebeu de braços abertos o papa Francisco. Em entrevista a Rede Globo de Televisão, o Santo
Padre contou que certa vez, em seu país, Argentina, foi visitar uma distante
cidade do interior daquela terra andina. Descobriu uma mulher que havia se tornado
protestante, devido à ausência de um padre na cidade. O então bispo Jorge Mario
Bergoglio ficou profundamente preocupado com as “ovelhas” católicas sem seu
condutor espiritual. E alertou – naquela entrevista – sobre a necessidade de
igrejas de portas escancaradas, para receber seu rebanho.
Quando iniciei este
texto, disse que há cinqüenta anos moro em Natal, e que jamais havia visto esta
igreja aberta. Trabalhando com turismo, desde 1999, faço city tour freqüentemente.
Jamais (jamais do “verbo” nunca) encontrei a Igreja do Rosário aberta. E agora
fiquei curioso para saber o que faz um padre, quando não está rezando missa...
Para onde vai o vigário? Por que não ficam em suas paróquias – recebendo necessitados
espirituais -, como fazem os protestantes “neopentecostais”?... A propósito, será esta uma razão do êxodo católico para outras crenças?
Abaixo segue uma seqüência de fotos que fiz aquela noite. - fcésar
Muito bom grande César. Também já ando naquelas paragens há um bom bocado de anos e também nunca vi a igrejinha aberta. Bom saber que ela abre aos domingos. Ver se apareço lá qualquer dia e acerto parte das dívidas que tenho com nosso criador. Mateus Augusto
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