(à memória de “Manezin”)
Tenho aqui em minhas
mãos um exemplar do jornal Tribuna do Norte - Edição de 16 de agosto do
corrente - que traz em sua manchete principal: “Adolescências interrompidas: no
primeiro semestre deste ano, 270 adolescentes foram assassinados em Natal”.
Também tenho aqui um exemplar de O Jornal de Hoje - Edição daquele mesmo dia -
que dar a seguinte notícia: “Rio Grande do Norte ultrapassa marca de mil mortos
em menos de oito meses. estimativa para este ano é de 1560 mortos pela
violência no Estado”. Quando lemos notícias como essas, vemos apenas os
“números”, e bem distante de nós. Jamais nos imaginamos dentro dele. Mas, para
mim, já é uma realidade.
Ontem, no Jardim Santo
Antônio, bairro de Osasco na Grande São Paulo, coisa de 10h50 da manhã, meu
primo segundo Manoel Tertulino, foi morto na porta de sua casa. Vítima de dois
assaltantes em uma moto. Sua esposa havia ido ao banco sacar 2 mil reais, e,
certamente, foi seguida até a porta de sua casa. O primo foi abrir o portão e, quando
percebeu a ação dos bandidos, já era tarde demais. Recebeu dois tiros e morreu
no local.
“Manezin”, como era
carinhosamente chamado pelos seus, tinha 65 anos. Em 1976 acreditou no “sonho”
chamado São Paulo. Lá dedicou toda a vida, em busca de uma vida melhor. Conheceu
sua futura esposa, uma moça pernambucana e, com ela, construíram uma família. Foi
um herói. Trabalhou anos numa indústria de tecidos. Quando se aposentou, montou
um pequeno comercio em sua casa e vivia disso.
No começo deste ano
revi Manezin - fazia 37 desde a última vez. De março a junho de 1983 fui fazer
um trabalho em Osasco, mas não consegui vê-lo. Em janeiro viera para as
comemorações dos 100 anos de nascimento de sua mãe, tia Maria Tertulino. Era a
mesma pessoa. Salvo as “marcas” do tempo. O mesmo sorriso, a mesma
simplicidade, a mesma fala calma e baixa. Em conversa com ele, descobri que
minhas origens (“Barbosa de Moura”) vinham da serra do Baturité, no Ceará. Em
meados do século XVIII um deles - muito provavelmente Januário Barbosa de Moura
– se aventurou em terras norte-rio-grandense, viajando mais de 600 quilômetros,
vindo povoar o que é hoje “Caiçara dos Barbosa” (entre Barcelona e Ruy
Barbosa). Foi uma agradável e importante descoberta para mim.
Também, a meu pedido, levou-me
nas ruinas da “Casa Grande” de Maximiano Barbosa de Moura - meu bisavô. Minha
prima segunda, Luzenira Barbosa, em prima dele em primeiro grau, nos
acompanhou. Alí fiz algumas fotos - veja no www.caicaradosbarbosa.blogspot.com
- dele conversando com ela, que é filha do meu falecido tio-avô Chico Barbosa
(Chico do Jipe). Ele falou sobre aquela casa, o frondoso pé de quixabeira, que
embelezava um lado da casa, e experiências de sua infância vivida naquele torrão.
Também falou numa possível volta ao seu chão natal.
Como citei acima,
Manezin foi um herói. Ser um nordestino em São Paulo é, antes de tudo, ser um
herói. Lá se enfrenta trabalho duro (dos piores), desprezo e discriminação. O
paulista, arrogante e prepotente, se dirige ao nordestino como “baiano”. E o
faz pejorativamente mesmo. Para denegrir mesmo. Para mostra-lo que não é
“bem-vindo”. Mas, o nordestino resiste bravamente. Como diria Euclides da
Cunha: “O sertanejo (nordestino) é antes de tudo, um forte”. Contudo, talvez
por isso segui o conselho de Luiz Gonzaga dizendo: “Mas a estrada não terá/o
meu pé pra castigar(...)/A virar em cruz de estrada/prefiro ser cruz por cá./Ao
menos o chão que é meu/meu corpo vai adubar (...)/Pobreza por pobreza/sou pobre
em qualquer lugar... - (fcb/cp)
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