sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A VIOLÊNCIA BATE À MINHA PORTA


(à memória de “Manezin”)



Tenho aqui em minhas mãos um exemplar do jornal Tribuna do Norte - Edição de 16 de agosto do corrente - que traz em sua manchete principal: “Adolescências interrompidas: no primeiro semestre deste ano, 270 adolescentes foram assassinados em Natal”. Também tenho aqui um exemplar de O Jornal de Hoje - Edição daquele mesmo dia - que dar a seguinte notícia: “Rio Grande do Norte ultrapassa marca de mil mortos em menos de oito meses. estimativa para este ano é de 1560 mortos pela violência no Estado”. Quando lemos notícias como essas, vemos apenas os “números”, e bem distante de nós. Jamais nos imaginamos dentro dele. Mas, para mim, já é uma realidade.

Ontem, no Jardim Santo Antônio, bairro de Osasco na Grande São Paulo, coisa de 10h50 da manhã, meu primo segundo Manoel Tertulino, foi morto na porta de sua casa. Vítima de dois assaltantes em uma moto. Sua esposa havia ido ao banco sacar 2 mil reais, e, certamente, foi seguida até a porta de sua casa. O primo foi abrir o portão e, quando percebeu a ação dos bandidos, já era tarde demais. Recebeu dois tiros e morreu no local.

“Manezin”, como era carinhosamente chamado pelos seus, tinha 65 anos. Em 1976 acreditou no “sonho” chamado São Paulo. Lá dedicou toda a vida, em busca de uma vida melhor. Conheceu sua futura esposa, uma moça pernambucana e, com ela, construíram uma família. Foi um herói. Trabalhou anos numa indústria de tecidos. Quando se aposentou, montou um pequeno comercio em sua casa e vivia disso.

No começo deste ano revi Manezin - fazia 37 desde a última vez. De março a junho de 1983 fui fazer um trabalho em Osasco, mas não consegui vê-lo. Em janeiro viera para as comemorações dos 100 anos de nascimento de sua mãe, tia Maria Tertulino. Era a mesma pessoa. Salvo as “marcas” do tempo. O mesmo sorriso, a mesma simplicidade, a mesma fala calma e baixa. Em conversa com ele, descobri que minhas origens (“Barbosa de Moura”) vinham da serra do Baturité, no Ceará. Em meados do século XVIII um deles - muito provavelmente Januário Barbosa de Moura – se aventurou em terras norte-rio-grandense, viajando mais de 600 quilômetros, vindo povoar o que é hoje “Caiçara dos Barbosa” (entre Barcelona e Ruy Barbosa). Foi uma agradável e importante descoberta para mim. 

Também, a meu pedido, levou-me nas ruinas da “Casa Grande” de Maximiano Barbosa de Moura - meu bisavô. Minha prima segunda, Luzenira Barbosa, em prima dele em primeiro grau, nos acompanhou. Alí fiz algumas fotos - veja no www.caicaradosbarbosa.blogspot.com - dele conversando com ela, que é filha do meu falecido tio-avô Chico Barbosa (Chico do Jipe). Ele falou sobre aquela casa, o frondoso pé de quixabeira, que embelezava um lado da casa, e experiências de sua infância vivida naquele torrão. Também falou numa possível volta ao seu chão natal.

Como citei acima, Manezin foi um herói. Ser um nordestino em São Paulo é, antes de tudo, ser um herói. Lá se enfrenta trabalho duro (dos piores), desprezo e discriminação. O paulista, arrogante e prepotente, se dirige ao nordestino como “baiano”. E o faz pejorativamente mesmo. Para denegrir mesmo. Para mostra-lo que não é “bem-vindo”. Mas, o nordestino resiste bravamente. Como diria Euclides da Cunha: “O sertanejo (nordestino) é antes de tudo, um forte”. Contudo, talvez por isso segui o conselho de Luiz Gonzaga dizendo: “Mas a estrada não terá/o meu pé pra castigar(...)/A virar em cruz de estrada/prefiro ser cruz por cá./Ao menos o chão que é meu/meu corpo vai adubar (...)/Pobreza por pobreza/sou pobre em qualquer lugar... - (fcb/cp)

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