“Amigos a gente
encontra/o mundo não é só aqui/repare naquela estrada/que distância nos
levará?”... Eu estava na Ribeira
quando, ouvindo a Radio Poti soube da presença de Dominguinhos na emissora.
Isso aconteceu em 1982. Subi a Rua Sachet correndo. Eu queria vê-lo. Era um
discípulo de Luiz Gonzaga. Desejava conhecê-lo. Apertar sua mão. Quando cheguei
à rádio o porteiro informou que ele acabara de sair. Corri atrás. Fui
alcançá-lo já na calçada da então loja A Sertaneja - esquina da Avenida Deodoro
com Rua Potengi. Dominguinhos me
estendeu sua mão grande, de dedos grossos, um jeito e aparência rude e, ao
mesmo tempo, matuta. O chapéu de couro na cabeça denunciava isso. Aquele jeito
“lá de nóis”. Mas, um farto sorriso, desses que vai de orelha a orelha, sua
fala mansa e gutural, descontraída, se mostrou um homem fino, educado, cortês. Felizmente
desconstruiu toda a minha primeira e errônea avaliação sobre ele. E ficamos
naquela esquina por uns 10 minutos. Assuntos de música e sua apresentação, no
dia anterior, na Casa da MPB, na Praia do Meio. Lamentei não ter podido ir
vê-lo. E um autógrafo – tesouro guardado até hoje com muito carinho, respeito e
admiração. Depois mais um aperto de mãos (com as duas dele) e nunca mais nos
encontramos. Agora recebo a notícia, pelo Facebook de Bob Motta, de que Dominguinhos
partiu para a eternidade. Fez a grande e inevitável viagem. Há meses que ele
estava internado em um hospital de São Paulo. Sabíamos que seu quadro era grave,
mas, havia sempre uma esperança. Contudo, o “São João” deste ano não foi o
mesmo... A morte de José
Domingos de Morais, nascido em 1941 na cidade de Garanhus, Pernambuco, deixa
uma enorme lacuna na Música Popular Brasileira. E, ao mesmo tempo, constitui-se
uma perda irreparável para a música nordestina, que o tinha como o último
baluarte do que foi inventado por Luiz Gonzaga – de quem também era herdeiro
legitimo... E de quem recebeu a árdua missão de mate-la viva; numa época em que
algo chamado de “música” polui os nossos ouvidos diariamente nos quatro cantos
da cidade. Digo “polui” por que não quero ser indelicado (mais do que já sou),
afirmando que o que ouvimos hoje, se transportados para o nariz certamente que
sentiríamos um mau cheiro insuportável. Dominguinhos, Marinês,
Elino Julião, Trio Nordestino, Sivuca. É, parece que, lá em cima, o forró de
Gonzaga anda bem animado... “As coisas que eu tenho aqui/na certa terei por lá/.../Não
diga que eu não levo a guia, de quem souber me amar”... - [cp]
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