quarta-feira, 24 de julho de 2013

DOMINGUINHOS

“Amigos a gente encontra/o mundo não é só aqui/repare naquela estrada/que distância nos levará?”... Eu estava na Ribeira quando, ouvindo a Radio Poti soube da presença de Dominguinhos na emissora. Isso aconteceu em 1982. Subi a Rua Sachet correndo. Eu queria vê-lo. Era um discípulo de Luiz Gonzaga. Desejava conhecê-lo. Apertar sua mão. Quando cheguei à rádio o porteiro informou que ele acabara de sair. Corri atrás. Fui alcançá-lo já na calçada da então loja A Sertaneja - esquina da Avenida Deodoro com Rua Potengi. Dominguinhos me estendeu sua mão grande, de dedos grossos, um jeito e aparência rude e, ao mesmo tempo, matuta. O chapéu de couro na cabeça denunciava isso. Aquele jeito “lá de nóis”. Mas, um farto sorriso, desses que vai de orelha a orelha, sua fala mansa e gutural, descontraída, se mostrou um homem fino, educado, cortês. Felizmente desconstruiu toda a minha primeira e errônea avaliação sobre ele. E ficamos naquela esquina por uns 10 minutos. Assuntos de música e sua apresentação, no dia anterior, na Casa da MPB, na Praia do Meio. Lamentei não ter podido ir vê-lo. E um autógrafo – tesouro guardado até hoje com muito carinho, respeito e admiração. Depois mais um aperto de mãos (com as duas dele) e nunca mais nos encontramos. Agora recebo a notícia, pelo Facebook de Bob Motta, de que Dominguinhos partiu para a eternidade. Fez a grande e inevitável viagem. Há meses que ele estava internado em um hospital de São Paulo. Sabíamos que seu quadro era grave, mas, havia sempre uma esperança. Contudo, o “São João” deste ano não foi o mesmo... A morte de José Domingos de Morais, nascido em 1941 na cidade de Garanhus, Pernambuco, deixa uma enorme lacuna na Música Popular Brasileira. E, ao mesmo tempo, constitui-se uma perda irreparável para a música nordestina, que o tinha como o último baluarte do que foi inventado por Luiz Gonzaga – de quem também era herdeiro legitimo... E de quem recebeu a árdua missão de mate-la viva; numa época em que algo chamado de “música” polui os nossos ouvidos diariamente nos quatro cantos da cidade. Digo “polui” por que não quero ser indelicado (mais do que já sou), afirmando que o que ouvimos hoje, se transportados para o nariz certamente que sentiríamos um mau cheiro insuportável. Dominguinhos, Marinês, Elino Julião, Trio Nordestino, Sivuca. É, parece que, lá em cima, o forró de Gonzaga anda bem animado... “As coisas que eu tenho aqui/na certa terei por lá/.../Não diga que eu não levo a guia, de quem souber me amar”... - [cp]

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