domingo, 28 de outubro de 2012

MACAÍBA É TÃO PERTO QUE SE CHEGA NUM PULO

(Agaci de Sousa)

Agaci de Sousa foi um dos raríssimos serem humanos mais bonitos que conheci. Não pela “metragem” da estética: baixo, gorducho, cabeça grande e redonda, ainda por cima zarolho - sua estrutura física lembrava, e muito (pelo menos para mim), os atores Felipe Carone (1920-1995) e Henry Calvin (1918-1975), o sargento Garcia da série Zorro (1957-1960) -, mas, aquela sua alma irradiava luz. Um altruísta no sentido literal da palavra. Sua maior característica era o de ser um autêntico bonachão: bondade natural, simples, paciente - e até certo ponto, ingênuo.

Foi uma figura amada por todos que dele se aproximaram. Os “inimigos” (forjados pela da maldita política) o respeitava e até o admiravam. Tinha um carisma nato no domínio de um palanque nas eleições. Semianalfabeto, discursava como poucos. Nasceu para ser um comunicador. Mas, profissionalmente foi comerciante, caminhoneiro e vice-prefeito de Barcelona por inúmeras vezes. E quando tentou ser prefeito foi derrotado por seus próprios correligionários: nos anos de 1970, candidatou-se pela “Arena 2” – Aliança Renovadora Nacional-, seus opositores da “Arena 1” o atacaram com uma letra (sobre uma música do cantor paraibano João Gonsalves) que dizia: “Esse ‘cara olho’, eleitor, quer te iludir/ Esse ‘cara olho’, eleitor, quer te iludir/É o vigarista mais gabola que já vi/Não votamos com ele, pois vai dá confusão/Nosso eleitorado, é gente de ação/Vai votar com Sinésio, e com Sebastião/Agaci vai chorar, junto com o Babá, e não tem mais perdão”. Em sua simplicidade, e sem magoas, apenas ria quando alguém cantava. O certo é que jamais saberemos o que perdeu Barcelona. Aquilo tudo foi jogado no saco de lixo da sujeira provocada pela política que impera na mente do nosso povo.

Política à parte, nada ofuscava sua natural popularidade como pessoa. Era normal gente viajar até sua residência para saudá-lo e presenteá-lo com sacos de feijão verde, galinhas, patos, perus, jerimuns, melancia e tudo o mais que a Região produzia. Feliz, ele não se continha e saía “boatando” - de esquina em esquina - o que iria almoçar aquele dia, convidando “Paulo, Sancho” e Martins”. Sua mulher, odiava. Mas, assim era Agaci: alguém que compartilhava.

Dos meus 51 anos tive o privilégio de circular em sua “orbita” por 26. E por uma dessas idas e vindas que o destino comanda, tive com ele certo grau de parentesco. Em consequência lhe herdei o exemplo de bondade, que continuamente provoca-me algo de “franciscano”, que insiste em duelar, todos os dias, com meu lado “satanás”. O primeiro diz “faça sempre o bem aos seus semelhantes. Independente de quem seja e o que lhe faça”. O segundo toca meu ombro e, com seu olhar matreiro e um sorriso diabólico, diz “deixe esse povo se F... Você não tem nada com isso. Cuide de sua vida”!

A morte de Agaci de Sousa se deu no dia 21 de outubro de 1987, na BR 304, a altura da Cidade de Macaíba. Faz 25 anos. Viajando em um Fiat, modelo Panorama, no sentido Natal-Barcelona, um pneu estourou. Seu amigo que conduzia o veiculo, homem de experiência em estrada, “danou” o pé no freio causando o capotamento. O vice-prefeito não suportou os gravas ferimentos e partiu. Pessoalmente foi uma das maiores perdas que tive na minha vida.

O inesquecível Agaci de Sousa tinha o habito – e nunca se soube a verdadeira razão – de dizer “Macaíba é tão perto que se chega num pulo”. E foi exatamente naquela Cidade onde ele escolheu partir deste mundo tão carente de “Agacis”... - (fcb/cp)

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