quinta-feira, 18 de outubro de 2012

“CAETANEANDO” OU A TRILHA SONORA DAS MINHAS PAIXÕES


(“Hoje, eu ouço as canções/Que você fez pra mim”...)


Já disse que fui colega de Napoleão Bonaparte. Mas, só na artilharia. Na música, somos infinitamente opostos. Para o militar corso a “música não passava de ruídos”. Amo a música. Mesmo não “tocando” algum instrumento “convencional”, amo a música.  Ela faz parte da minha vida. Cinco delas, especialmente, me deixam todo arrepiado e me fazem chorar de emoção pela singeleza da mensagem: “A Triste Partida” (Patativa do Assaré), “Suplica Cearense” (Gordurinha/Nelinho), “Meus Tempos de Criança” (Ataulfo Alves), “Alegria Alegra” (Caetano) e Avenida Dez (Babal) cantada por Geraldo Azevedo. Esses dias, surfando nas ondas cibernéticas da internet, reencontrei uma garota que não via há muito tempo. Quando a conheci, em 1983, era apenas uma menininha de 11 anos: loura de cabelos longos, sardenta, levemente dentuça, um sorriso encantador. Agora a vejo uma mulher e, casada (pare!). Enquanto a irmã (então com 17 anos), fingindo paixão, cantava “Luz do sol/Que a folha traga e traduz/Em verde novo/Em folha, em graça/Em vida, em força, em luz”... Aquela garotinha, alegremente cantava, com sua voz doce e meiga “I...lê aiê como você é bonito de se ver/ I...lê aiê que beleza mais bonita de se ter...”. Riamos muito por que ela era extremamente tímida. Felizmente, naquela época ainda era possível os adultos brincarei com as crianças sem correrem o risco das suspeitas pedófilas. Nunca fui bom é “caetanear”. Embora sua música “Alegria Alegria” seja uma das minhas preferidas, como citei acima.  Está entre as que eu gostaria de ser lembrando quando for embora (para SEMPRE! Espero nunca mais voltar a este Planeta medíocre) em busca das “muitas moradas” celestiais (sic) – trazendo-me marcantes recordações da minha infância. Curiosamente sempre namorei garotas que curtiam Caetano. Lembro bem de Lourdes. Me olhava com seus imensos olhos verdes, e com sua boca carnuda cantava: “Gosto muito de te ver, leãozinho/Caminhando sob o sol/Gosto muito de você, leãozinho/Para desentristecer, leãozinho/O meu coração tão só/Basta eu encontrar você/No caminho”... O “leãozinho”, não parece, mas, era eu. Shirley, uma linda gauchinha - de cabelos finos e sedosamente louros - que veio morar em Ponta Negra vinda de Brasília, gostava de cantar “Menino do Rio (‘Grande do Norte’)/Calor que provoca arrepio/Dragão tatuado no braço/Calção, corpo aberto no espaço/Coração, de eterno flerte/ Adoro ver-te”...  Música de Caetano, mas, na época, gravada por Baby Consuelo. E o acréscimo do “Grande do Norte” era dela, claro. Paula, outra lindinha, cantava “Fonte de mel/Nos olhos de gueixa/Kabuki, mascara”... Eu também completava para ela: “Você é linda/Mais que demais”... “Outras Palavras” também foi apreferida de uma delas: Ana. Aliás, minha única namorada “Ana”. Eu acho muito bonito e suave este nome. Em geral, são mulheres delicadas. A música sempre acompanhou minhas paixões. E marca muito mais que ferro em brasa. Algumas trazem recordações amargas - “Menina Veneno”, “Pelo Interfone”, “A Vida tem Dessas Coisas” (Ritchie), e “Linda Juventude” (14 Bis), são aquelas que não me vale à pena comentar. Marcaram um relacionamento com feridas que demoraram séculos para cicatrizar. Mas, há aquelas que trazem doces recordações. Canções que se transformaram em “Trilhas Sonoras” de minhas paixões. No começo de 1980 namorei três garotas ao mesmo tempo. Isso só me aconteceu uma única vez (eu não tenho muito talento para a prática da poligamia): “Bandolins” (Oswaldo Montenegro) e “Amor, meu Grande Amor” (Ângela Ro Ro) marcou meu namoro com Edna (1ª). “Toada” (Boca Livre)e “Estranho Amor” (Caetano e Marina Lima) embalava meus momentos com Conceição (2ª). Ambas moravam no mesmo bairro da Zona Norte, mas não se conheciam. “Ceiça” era uma garota lá das bandas de Acari. E, como minha avó, sua conterrânea, me chamava de “freguês”. Até hoje eu me pergunto se é um “vício” daquele lugar chamar os homens de “freguês”?“Dinheiro Não” (A Cor do Som) era a minha preferida quando estava com Valéria (3ª). Uma fofinha linda, de cabelos pretos e pele branca que parecia feita de porcelana. “Coração Bobo” (Alceu Valença), “Coisinha do Pai! (Bete Carvalho) e “Riacho do Navio” (Luiz Gonzaga) eram as preferias de Graça (uma garota de Caicó que depois se tornou uma grande e sincera amiga. Até hoje, felizmente). Eu e Wanda curtíamos “Trinity”, “Love me, Please Love me”, entre outras românticas, no toca-fitas do seu fusca, embaixo das arvores do Bosque dos Namorados. Ah..., o Bosque dos Namorados... Era um lugar especial para se namorar. Até aparecer esta famigerada praga chamada “Promotoras do Meio Ambiente”. “Baile de Máscaras”, “Ave de Prata”, “Veio D’Água”, “Kukukaya”, “Pés de Milho”, “Nó Cego”, “Porto da Saudade”, e “Veja” (todas com Elba Ramalho) fizeram a “trilha” para meu namoro com Narla, em 1981. Ela foi minha primeira paixão. Algo lindo. De adolescente mesmo. Apesar de eu ter 20 anos na época. Alias, minha mulher sempre disse, cheia de ternura e graça, acariciando meu rosto: “Você jamais sairá da adolescência... Cresça, meu ‘filho’”! Insistia. É..., mas a “Síndrome de Peter Pan” não me deixa. “Menina eu te conheço/Não sei de onde/Mas por incrível que parece sei do teu nome/Menina/Não sei se foi do bonde de Santa Tereza/Como podia ser/De uma butique em Copacabana”... (Geraldo Azevedo e Elba Ramalho) fez trilha para meu namoro com Tereza (em outro texto já falei das “curvas”, generosamente carnudas, daquela garota). “Menino Bonito” (Wanderléa), e “Tempo Rei” (Gilberto Gil) foram as músicas que eu ouvia com minha última namorada – em 1985 - antes de conhecer minha futura esposa. Seu nome era Inês. Uma paulista que veio morar na Praia de Areia Preta. Garota de cabelos curtíssimos, pescoço alongado, lábios rosados – com um hálito de quem escova os dentes com o creme dos deuses -, pele sedosa e de um cheiro inebriante jamais sentido em outra garota. Pensando bem, as mulheres, exceto pelo “veneno”, são em tudo, diferentes umas das outras... Será por isso que queremos todas ao mesmo tempo? As músicas que marcaram meu namoro com aquela com quem eu casaria foram “Chuva de Prata”, “Linda demais”, “Seguindo no Trem azul” (Roupa Nova), “A Fórmula do Amor” (Kid Abelha), e “Sorte” (outra vez Caetano). E quando tivemos nossa primeira “crise” eu botei na vitrola 1.359 vezes, “Você foi saindo de mim/Com palavras tão leves/De uma forma tão branda/De quem partiu alegre/Você foi saindo de mim/Com sorriso impune/Como se toda faca não tivesse/Dois gumes/Você foi saindo de mim/Devagar e pra sempre/De uma forma sincera/Definitivamente/ Você, foi saindo de mim/Por todos os meus poros/E ainda está saindo/Nas vezes em que choro/Nas vezes em que choro”... (com Simone). Graça, zangada, não agüentou tantas repetições foi lá e esfregou um prego, por toda a faixa do LP da moça dizendo: “repita agora, filho da puta”! Para meu desgosto minha mulher não apreciava a cultura nordestina. Luiz Gonzaga, Elino Julião, Marinês, cantavam a sua revelia, e em um “quarto refúgio” que eu sempre tive em casa. E quando ela me via comendo meus tacos de rapadura – hermeticamente guardados em um vidro - perguntava com a cara fechada: “comendo uma rapadurazinha, trabalhador”? Depois se abria em um lindo e angelical sorriso censurador, balançando a cabeça negativamente... Era normal ouvi Graça cantarolar músicas de seus cantores preferidos: Charles Azsnavour, Edith Piaf – “La vie en Rose” ficava linda cantada, displicentemente, por ela -, Elvis, Beatles, Sinatra, Marisa Monte, Belchior, Johnnny Mathis, Elton Jones, musicas latinas - principalmente venezuelanas e mexicanas (lembrança de sua estada naqueles dois países) – e ABBA. Como eu, minha mulher detestava músicas italianas. Aquela raça, graças a Deus, jamais cantou em minha casa. E quando ela me ligou, preocupada, dizendo que nossa filha (que foi educada pelo pai e pela mãe!) estava de papo, pelo MSN, com um italiano decretei: “se continuar vai ganhar um macho e perder, PARA SEMPRE, o pai. Não criei uma filha para ser puta de estrangeiro. Natal tem homens suficientes para você escolher um e ir viver com ele”. Felizmente a garota entendeu a mensagem. Tenho um genro maravilhoso. No final de 2008 - quando ensaiávamos reatar nosso casamento - ela me escreveu: “Talvez eu seja/ Simplesmente/Como um sapato velho/Mais ainda sirvo/Se você me quiser/Basta você me calçar/Que eu aqueço o frio/Dos seus pés”... (Roupa Nova). Eu desabei. Senti ali a grandeza de uma mulher que luta para salvar aquilo (ou aquele) que ama. Sinceramente, me senti pequeno. Não queria que fosse assim. Apesar de minhas falhas, imperfeições, ela me amava como eu jamais havia sido amado e queria que eu voltasse para casa, pois já havia dado “cabeçadas” demais. Quando “Graça Aranha” partiu fiz de “Non, Je Ne Regrette Rien” (com Edith Piaf ) um hino de saudade à sua memória. - [cp]

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