Já escrevi sobre Elisângela, uma garota que morou em minha casa por nove
anos. Magra feito um palito. Chorava (literalmente) para não comer. Era preciso
Graça sentar do lado dela, e dizer que só sairia da mesa depois de “limpar” o
prato. Em um dia de 1993 armaram um parque de diversão ali na esquina das
avenidas Prudente de Moraes com Alexandrino de Alencar, em frente ao Corpo de
Bombeiros, pouco mais de um quilômetro lá de casa. O alto falante anunciava as atrações da
noite, com destaque para “Monga - a moça que se transforma em macaco, por um
processo de metamorfose do imaginário, da película do filme..., de não sei o
quê, e coisa e tal...,” enrolava o locutor. Lá em casa as meninas se animaram
com o “leriado” prometido. Eu estava vendo um filme quando Graça irrompeu no
meu “quarto-refúgio”, me chamando para ir com elas. Minha filha quis brincar
nos balanços, cavalinhos, roda gigante e comer as guloseimas vendidas na festa.
Elisângela, com sua costumeira gaiatice, quis ver Monga. Rindo, Graça disse:
“Mulher, você não vai gostar de ver isso”. “’Que nada, mãezinha’, eu quero
conhecer essa tal de Monga”, respondeu confiante. Comprei
o ingresso e lá se foi ela toda sorriso, toda faceira, gingando um par de
pernas, mais parecendo dois “cambitos”. Ficamos lá fora esperando ela voltar. A
subida para o grafitado ônibus, onde acontecia atração, era feita por uma rampa
de madeira encaixada numa moldura de ferro, com uma saliência de uns dois centímetros
de largura, creio eu. Era preciso ter cuidado na descida. Lá dentro começou a
transformação da moça vestindo um biquíni, e a gritaria de quem estava vendo a
cena. O locutor pedia calma as pessoas, prometendo que a “gorila” não fugiria
das grandes que a prendia, que era seguro e coisa e tal. Mas, de repente
ouviu-se o rebentar das grandes e a gritaria de quem estava lá dentro do
ônibus. Elisangela foi a primeira a aparecer na porta e desceu a rampa numa disparada
que nem o satanás a alcançaria. Acontece que a “gorila”, que propositadamente
havia roçado seu braço peludo no braço da menina, foi até a porta urrando e
batendo nos peitos. Nisso a“magrela” inventou de olhar para trás. O pavor visivelmente
estampado em seu semblante. Foi quando alcançou a moldura de aço e, sem
perceber, topou na saliência da chapa de ferro, sendo jogada para frente. Caiu estatelada
com a cara no solo de barro vermelho, fazendo a poeira subir. As atrações do
parque praticamente pararam para ver a cena. Ela com a roupa toda suja de pó
avermelhado, o povo dando risada. A pobrezinha levantou-se, a princípio
desconfiada, depois caio num pranto, abraçada a Graça em crise de riso. Monga
foi “amansada”, voltou para sua cela e depois a “realidade” de uma moça vestida
de biquíni. – [chico potengy]
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