quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A “MAGRELA” ENFRENTA MONGA


Já escrevi sobre Elisângela, uma garota que morou em minha casa por nove anos. Magra feito um palito. Chorava (literalmente) para não comer. Era preciso Graça sentar do lado dela, e dizer que só sairia da mesa depois de “limpar” o prato. Em um dia de 1993 armaram um parque de diversão ali na esquina das avenidas Prudente de Moraes com Alexandrino de Alencar, em frente ao Corpo de Bombeiros, pouco mais de um quilômetro lá de casa.  O alto falante anunciava as atrações da noite, com destaque para “Monga - a moça que se transforma em macaco, por um processo de metamorfose do imaginário, da película do filme..., de não sei o quê, e coisa e tal...,” enrolava o locutor. Lá em casa as meninas se animaram com o “leriado” prometido. Eu estava vendo um filme quando Graça irrompeu no meu “quarto-refúgio”, me chamando para ir com elas. Minha filha quis brincar nos balanços, cavalinhos, roda gigante e comer as guloseimas vendidas na festa. Elisângela, com sua costumeira gaiatice, quis ver Monga. Rindo, Graça disse: “Mulher, você não vai gostar de ver isso”. “’Que nada, mãezinha’, eu quero conhecer essa tal de Monga”, respondeu confiante. Comprei o ingresso e lá se foi ela toda sorriso, toda faceira, gingando um par de pernas, mais parecendo dois “cambitos”. Ficamos lá fora esperando ela voltar. A subida para o grafitado ônibus, onde acontecia atração, era feita por uma rampa de madeira encaixada numa moldura de ferro, com uma saliência de uns dois centímetros de largura, creio eu. Era preciso ter cuidado na descida. Lá dentro começou a transformação da moça vestindo um biquíni, e a gritaria de quem estava vendo a cena. O locutor pedia calma as pessoas, prometendo que a “gorila” não fugiria das grandes que a prendia, que era seguro e coisa e tal. Mas, de repente ouviu-se o rebentar das grandes e a gritaria de quem estava lá dentro do ônibus. Elisangela foi a primeira a aparecer na porta e desceu a rampa numa disparada que nem o satanás a alcançaria. Acontece que a “gorila”, que propositadamente havia roçado seu braço peludo no braço da menina, foi até a porta urrando e batendo nos peitos. Nisso a“magrela” inventou de olhar para trás. O pavor visivelmente estampado em seu semblante. Foi quando alcançou a moldura de aço e, sem perceber, topou na saliência da chapa de ferro, sendo jogada para frente. Caiu estatelada com a cara no solo de barro vermelho, fazendo a poeira subir. As atrações do parque praticamente pararam para ver a cena. Ela com a roupa toda suja de pó avermelhado, o povo dando risada. A pobrezinha levantou-se, a princípio desconfiada, depois caio num pranto, abraçada a Graça em crise de riso. Monga foi “amansada”, voltou para sua cela e depois a “realidade” de uma moça vestida de biquíni. – [chico potengy]

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