WANDICK

Meu amigo Wandick... Sempre que eu ia ao seu estabelecimento, na Ribeira, ele me apresentava aos seus amigos como "o maior conhecedor da vida de Luiz Gonzaga". É claro que era um exagero do amigo. Agora ele faz sua grande e última viagem, exatos 25 anos da partida do "Rei do Baião". Wandick teve muitos amigos. Vez por outra um deles morria. "Comemorávamos" comendo chocolate - Diamante Negro ou Sonho de Valsa. Quando eu o visitava perguntava: "Wandick, alguém morreu?" Ele muito sério respondia: "César, morreu, não! A safra está fraca." Hoje às 03h45min recebia, via WhatsApp, a notícia de sua partida... Nossos assuntos sempre foram voltados para cantador de viola, Luiz Gonzaga, ou sobre algum personagem da história natalense. E, nesse caso último, acompanhado de um detalhadíssimo "acréscimo" para eu rir de me acabar. Ele sério... Café, água e rapadura não faltava. Uma vez, tentando agradar, comprei uma rapadura e levei para ele. Dias depois voltei. Mal entrei ele disparou: "César, onde danado você arrumou aquela rapadura tão ruim? Vou lhe dar uma de vergonha". No ano passado, quando voltou à sua terra natal, São Mamede, na Paraíba, me trouxe uma rapadura com mais de dois quilos. Levei meses para terminar de comê-la. Mesmo morando a um quilômetro de sua casa, raramente eu o visitava. Eu gosto de encontrar com os amigos na rua, mas, como ele estava com a saúde debilitada, fui vê-lo. Faz uns dois meses. Fiz questão de calcular que ele já havia almoçado. Eu não queria incomodar. Passava do meio dia. Me recebeu sem muito entusiasmo. Era normal nele e depois, o cansaço o maltratava até para falar. Conversamos, conversamos, conversamos e aí ele perguntou para sua filha: "Ruth, que horas sai o almoço?" Fiquei morto de vergonha... Comemos um delicioso cozido com arroz branco e pirão. Avani Ananias de Brito era seu verdadeiro nome. Nascido a 09 de agosto de 1933. Chegou a Natal no fim dos anos 40. Grande profissional ourives. Excelente marido, excelente pai e excelente avô. De uma honestidade, simplicidade e franqueza como poucos eu vi. Hoje perdi um amigo... - [cp]

Texto de  03/08.