terça-feira, 20 de agosto de 2013

EDMÍLSON PÉ DE SERRA

Hoje (19/08) me aconteceu um caso curioso. Eu ando louco desesperando procurando umas informações para concluir um livro que estou prestes a lançar. E, mexendo numa caixa e outra, encontrei uma entrevista do jornalista e escritor Franklin Jorge. Corria os anos 1990 e o jornal Tribuna do Norte, em sua coluna “Foco Pessoal” lhe fez “Sessentaetantas” perguntas, onde ele se saiu muito bem. De todas as inteligentes respostas me identifiquei com duas. Perguntaram: “Sexo só pode ser feito com amor?” Franklin respondeu: “Que eu saiba, sexo sempre se fez com tesão e parceria. Amor é outra coisa”. Gostei tanto que passei a usar a frase quando me fazem a mesma pergunta - sem esquecer o “crédito”. A outra pergunta que me chamou atenção foi: “Um bom papo?”: Franklin disparou: “Com Maria Eugenia Montenegro, Seu Quincas Duarte, Jarbas Martins, Honório de Medeiros, Racine Santos, Socorro Figueiredo, Wilton Gayo e Edmilson Andrade.” Termino de ler a entrevista, guardada há tempo nos meus arquivos, quando abro a caixa seguinte, logo acima, uma foto minha com Edmilson Andrade.

Eu conheci Edmilson em 1991. Costumava ficar escorado junto à entrada do Café São Luiz cumprimentando, e sendo cumprimentado, pelos amigos. TODAS as vezes que me via, levantava o braço esquerdo, numa saudação romana, olhando para frente (ou seja: sem olhar para mim) dizia: “Ave César! Os que vão morrer te saúdam.” E começava o papo. Sempre agradável e rico em acontecimentos. Ele era cheio de prosa. Um dia cumprimentei alguém que, na saída disse: “O que vale é a saúde e a parede do açude”. Edmilson, na “bucha”, completou: “Mas se a parede do açude se romper, vocês estão fodidos”.

Sei pouco sobre “Edmilson Pé de Serra” - como ficou conhecido nas Rádios de Natal, onde foi locutor.  Identificava-se como locutor. Jamais como radialista. Detestava esse título. Só sei que era filho natural de Picuí, na Paraíba, e viera para Natal ainda criança, nos anos 1940. E que no começo dos anos 1950 foi ao Recife fazer um teste na Radio Tamandaré - onde foi primeiro lugar. Trabalhou em Recife, cidades do interior de Minas Gerais, de São Paulo e voltou a Natal onde fez programas sertanejos. Por isso o pseudônimo de Edmilson Pé de Serra.

Em 1949, na campanha de Dix-Sep-Rosado ao governo do Estado, o jovem Edmilson foi o locutor oficial. E quando o governador morreu - vitima de um acidente aéreo no Estado de Sergipe, 100 dias depois da posse -, sempre me confidenciou que “morreu” um pedaço dele também. Considerava-se meio “órfão”. Aliás, a viúva lhe tratava com uma enorme consideração. Em 2000, por ocasião dos 50 anos de falecimento do governador Dix-Sep-Rosado, foi feita uma homenagem com Edmilson Andrade fazendo a narração da vinheta para a televisão.

Certa vez fui ao Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, para ver a exposição da Festa do Boi. Uma voz ecoou nos alto falantes. Minha mulher comentou: “Que voz agradável desse homem”. Ai lhe disse que ele era um amigo e a levei a cabine de transmissão para conhecê-lo. Ele considerou uma honra. Era um homem extremamente cortês, educado. E por que não dizer, um cavalheiro?


Edmilson Andrade faleceu nos anos 2000. Sinceramente, confesso que não sei precisar quando (creio que entre 2004 e 2006). Passei uns dias sem visitar os amigos. E quando cheguei Alexandre, engraxate de plantão da calçada do Café, me deu a má notícia. Não tive reação. Foi meio que inacreditável. Ele havia acabado de perder a sua esposa. Seu coração não suportou muito tempo. Foi uma grande perda. Não só para mim. Para toda comunidade do Café São Luiz que, vez por outra, relembra com carinho suas tiradas memoráveis. 

 (fcb/cp)

Um comentário:

  1. Gostaria de agradecer pelas palavras tão carinhosas ditas sobre meu pai....

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