Hoje (19/08) me aconteceu
um caso curioso. Eu ando louco desesperando procurando umas informações para
concluir um livro que estou prestes a lançar. E, mexendo numa caixa e outra,
encontrei uma entrevista do jornalista e escritor Franklin Jorge. Corria os
anos 1990 e o jornal Tribuna do Norte, em sua coluna “Foco Pessoal” lhe fez “Sessentaetantas”
perguntas, onde ele se saiu muito bem. De todas as inteligentes respostas me
identifiquei com duas. Perguntaram: “Sexo só pode ser feito com amor?” Franklin
respondeu: “Que eu saiba, sexo sempre se fez com tesão e parceria. Amor é outra
coisa”. Gostei tanto que passei a usar a frase quando me fazem a mesma pergunta
- sem esquecer o “crédito”. A outra pergunta que me chamou atenção foi: “Um bom
papo?”: Franklin disparou: “Com Maria Eugenia Montenegro, Seu Quincas Duarte,
Jarbas Martins, Honório de Medeiros, Racine Santos, Socorro Figueiredo, Wilton
Gayo e Edmilson Andrade.” Termino de ler a entrevista, guardada há tempo nos
meus arquivos, quando abro a caixa seguinte, logo acima, uma foto minha com
Edmilson Andrade.
Eu conheci Edmilson em
1991. Costumava ficar escorado junto à entrada do Café São Luiz cumprimentando,
e sendo cumprimentado, pelos amigos. TODAS as vezes que me via, levantava o
braço esquerdo, numa saudação romana, olhando para frente (ou seja: sem olhar
para mim) dizia: “Ave César! Os que vão morrer te saúdam.” E começava o papo.
Sempre agradável e rico em acontecimentos. Ele era cheio de prosa. Um dia
cumprimentei alguém que, na saída disse: “O que vale é a saúde e a parede do
açude”. Edmilson, na “bucha”, completou: “Mas se a parede do açude se romper,
vocês estão fodidos”.
Sei pouco sobre
“Edmilson Pé de Serra” - como ficou conhecido nas Rádios de Natal, onde foi
locutor. Identificava-se como locutor.
Jamais como radialista. Detestava esse título. Só sei que era filho natural de
Picuí, na Paraíba, e viera para Natal ainda criança, nos anos 1940. E que no
começo dos anos 1950 foi ao Recife fazer um teste na Radio Tamandaré - onde foi
primeiro lugar. Trabalhou em Recife, cidades do interior de Minas Gerais, de São
Paulo e voltou a Natal onde fez programas sertanejos. Por isso o pseudônimo de
Edmilson Pé de Serra.
Em 1949, na campanha de
Dix-Sep-Rosado ao governo do Estado, o jovem Edmilson foi o locutor oficial. E
quando o governador morreu - vitima de um acidente aéreo no Estado de Sergipe,
100 dias depois da posse -, sempre me confidenciou que “morreu” um pedaço dele
também. Considerava-se meio “órfão”. Aliás, a viúva lhe tratava com uma enorme
consideração. Em 2000, por ocasião dos 50 anos de falecimento do governador
Dix-Sep-Rosado, foi feita uma homenagem com Edmilson Andrade fazendo a narração
da vinheta para a televisão.
Certa vez fui ao Parque
Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, para ver a exposição da Festa do Boi. Uma
voz ecoou nos alto falantes. Minha mulher comentou: “Que voz agradável desse
homem”. Ai lhe disse que ele era um amigo e a levei a cabine de transmissão
para conhecê-lo. Ele considerou uma honra. Era um homem extremamente cortês,
educado. E por que não dizer, um cavalheiro?
Edmilson Andrade
faleceu nos anos 2000. Sinceramente, confesso que não sei precisar quando (creio
que entre 2004 e 2006). Passei uns dias sem visitar os amigos. E quando cheguei
Alexandre, engraxate de plantão da calçada do Café, me deu a má notícia. Não
tive reação. Foi meio que inacreditável. Ele havia acabado de perder a sua
esposa. Seu coração não suportou muito tempo. Foi uma grande perda. Não só para
mim. Para toda comunidade do Café São Luiz que, vez por outra, relembra com
carinho suas tiradas memoráveis.
Gostaria de agradecer pelas palavras tão carinhosas ditas sobre meu pai....
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