Antes de contar o “causo”, e seu principal protagonista, um
preâmbulo se faz necessário para eu homenagear, ainda que brevemente, uma das
figuras importante em minha formação como pessoa: o ex-padre Zé Luiz. A
propósito, eu costumo dizer que, “a Deus devo o dom de escrever. A Zé Luiz,
como escrever”. José Luiz Silva ficou
conhecido, na galeria dos vultos históricos do Rio Grande do Norte, como “padre
Zé Luiz” - mesmo tendo largando a batina para casar com a belíssima Maria
Helena. Andou pelos corredores do Vaticano do mesmo modo como andava pelas
vielas de São José de Campestre (sua terra natal), Taipu, Região do Mato
Grande, e Touros no Litoral Norte. Pendências, Ipanguaçu (no Vale do Açu) e
Macau, cidades onde foi vigário. Tinha habilidade para conversar com padres,
iguais a ele, e com papas, como João XXIII e Paulo VI. Nos anos 1950 foi secretário de Don Eugênio
Sales, em Natal, e, anos depois, assessorou o saudoso monsenhor Honório e Padre
Penha pelos campos salinizados das terras macaunses. Formado em filosofia,
garregava em sua bagagem sacerdotal experiências vividas na “França, Europa e
Bahia”. Entrava no Palácio Potengi – sede do governo estadual - pela
porta da frente e foi recebido por governadores independente de partido ou
ideologia. Aliás, é famosa a foto dele chegando à Casa do Executivo Estadual
acompanhado de frei Damião, seu amigo de longa data. De uma inteligência
como poucos, sabia tudo de tudo. E, eu diria, um pouco mais. Existem, em Natal,
vários doutores cuja monografia, eu testemunhei, Zé Luiz pesquisou, redigiu e
orientou o jovem acadêmico. Assíduo freqüentador do Café São Luiz, durante anos
escreveu sua coluna “Na Calçada do Café São Luiz” (que depois foi transformado
em um livro com o mesmo nome) no Jornal O Poti. “O Café é uma universidade. Um
poço do saber”, dizia ele. E eu não me sinto em nada constrangido em assumir
que sou um dos seus pequenos herdeiros - escriba na calçada do Café São Luiz.
Entre os anos 1950 e começo de 1960 ele era o padre que rezava a missa dos
formandos do Rio Grande do Norte. Por isso, o Regime Militar passou a
“monitorá-lo”. Dom Eugênio imediatamente arranjou fuga para Zé. Ele saiu de
Natal, de carona até a divisa entre Parnamirim e São José do Mipibu, onde
esperou o ônibus para Recife. Da capital pernambucana foi para Bruges, na
Bélgica, e lá, foi vigário por menos de um ano. Depois seguiu para Paris onde
rezou missa por mais de quatro anos na Chans Elysee - falava francês
flu-em-te-men-te. Motivado pelo seu espírito do saber, certo dia saiu da
capital francesa indo à Palestina. Pretendia conhecer os ensinos da religião
judaica (berço do cristianismo) na Universidade de Jerusalém. Acabou sendo
operador, voluntariamente, de trator num Kibutz na região da Palestina. Voltou
ao Rio Grande do Norte para ser vigário na pequena cidade de Pendências. Foi aí
que escreveu um de seus mais importantes livros, narrando suas experiências
fora do país, intitulado “De Paris a Pendências”. Em 1968 deixou a batina e foi
trabalhar no DNOCS – Departamento Estadual de Obras da Seca. Foi nessa época
que criou o inteligente: “O Vale, vale ou não vale?”, referindo ao fértil Vale
do Açu.
(Quando almas boas se encontram ou meu feliz encontro com Zé Luiz)
(o “causo” numa linguagem “lá de ‘nóis’”)
- Pádi Zé, eu sou uma muié de 45 anos com cara de véia. Tenho 25 fíi. Meu
marido é muito “danado”. Eu num agüento mais tê fíi. O qui eu faço, pádi?
Pacientemente, e sério, o padre, por trás do confessionário, disse:
- Aconselho você usar um preservativo, Joaninha. - E explicou da melhor forma o
que era o tal... “preservativo”.
Morta de vergonha, com a “desenvoltura” do padre, a mulher descartou a idéia
dizendo:
- Mas pádi, Chupitila só qué “discascado”.
- Nesse caso, Joana, quando Chupitila lhe “procurar”, fique o tempo todo com o
candeeiro acesso e olhando atentamente para os olhos dele. E quando ele começar
a revirar os olhos, você o empurra para o outro lado da cama. Pronto! –
Concluiu esfregando as mãos em um clássico gesto de Pôncio Pilatos.
A mulher chorosa, balançando negativamente um dedo, respondeu:
- Num dá certo, não, pádi. Num dá certo de jeito ninhum. Num dá certo, não
sinhô.
O Padre insistiu:
- E por que não dará certo, Joana?
No que ela respondeu, com um malicioso e envergonhado sorriso:
- Pádi, quando ele cumeça a rivirá os zói, eu já tô é cega! – [fcésar]
Texto maravilhoso. Sou sobrinho-neto de Padre Zé Luiz, tive somente alguns poucos contatos com ele, por morar com minha família no sul do Brasil, mas esse pouco já me disse muito.
ResponderExcluirDeixou saudade.