Em outubro do ano passado, quando estive em Mossoró, só se falava naquele cão da raça pit bull terrier que matou uma criança de seis meses naquela cidade. Eu me lembro de ter visto, na televisão, o pobre cachorro ser levado pela polícia, preso em fragrante, que “algemando”, foi encaminhado para Centro de Controle de Zoonoses. A dona do cão - bem como a população vizinha - pediu a cabeça do “feroz” animal. Em nenhum momento se pensou no que ele sofreu para desencadear tal reação. “Matar” é muito mais pratico. E tem sido assim até para com seres humanos. O povo tem uma fome de matar... Não faz muito tempo e mamãe me contou um impressionante fato ocorrido quando ela era criança - uma meninota com pouco mais de 12 anos. Uma história inicialmente bonita, até emocionante. Mas, com desfecho trágico. Contudo, algo que merece uma reflexão sobre o comportamento animal e o que fazemos a eles. Meu avô, Luiz Barbosa de Moura (1895-1987), foi descrito no livro Retalhos do Meu Sertão - do pesquisador José Fernandes Bezerra, e editado em 1978 no Rio de Janeiro - como um dos vaqueiros mais afamados da ribeira do Potengi. Homem acostumado a lidar com touros brabos. Corria na caatinga atrás de um novilho até alcançá-lo, peá-lo e mascará-lo. Sabia o que era um boi valente. O que vou narrar abaixo, contado por mamãe, deixou aquele experiente homem do campo perplexo... Corria o inicio dos anos 1940. Vovô já se mudara com a família, de Riacho da Onça, para morar, em definitivo, em Caiçara dos Barbosa, então município de São Tomé – que só passou a fazer parte de Barcelona quando este foi desmembrado em 17 de dezembro de 1959. Em Riacho Fundo, distante cerca de uns 12 quilômetros, ou mais, da casa do meu avô, havia a tradicional família Maurício. Seu Manoel Maurício, fazendeiro rico, amigo do meu avô, lhe confiava uma ou outra reis para ser cuidada - naquele tempo era comum alguém levar gado para pessoas de sua confiança tratar. Certo dia, dona Maria, sua esposa, penalizou-se quando uma das vacas da fazenda morreu durante o parto e adotou, literalmente, o filhote. Dava-lhe mamadeira com leite, banhos, andava pra cima e pra baixo com o bichinho sempre as suas costas, puxado por um bonito e trabalhado cabresto feito com muito gosto para ele. Era exatamente o que chamamos hoje de “bichinho de estimação”. Pois bem, e o bezerro foi crescendo e tomando forma de touro. Mamãe conta que ele era grandão, bonito, com seu andar paciente, altivo e "elegante", dentro da realidade bovina. Mas, ela sempre ouvia o meu avô censurar a atitude daquela bondosa senhora dizendo:
- Dona Marica tem munta corági. “Aquilo” é um animá bruto.
Um dia, logo cedo, chegou à casa do meu avô um apressado homem. Apeou-se do cavalo e anunciou:
- Seu Luí, seu Mané Mauríçu mandô avizá o sinhô, e sua famía, qui dona “Marica” é com Deus. Aquêle tôro di istimação qui criava, levantô ela numas chifradas e matô na beira do rio... - [cp]
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