terça-feira, 6 de novembro de 2012

MULHERES COM COTURNOS



Vendo esses oficiais de saias do “Exército de Salve Jorge”, eu me lembrei de que já namorei três militares.

A primeira foi bem antes de eu me casar: uma garota sargento da Marinha. Mulata, carnuda, cabelos longos e encaracolados, alta e muito bonita. Era enfermeira. Mas, havia um problema: as três solenidades que fomos juntos, as pessoas vendo aquela mulher grandona, toda cheia de “fitas” nos braços - mais enfeitada que jumento de cigano - ao invés de olhar para ela, olhavam para mim. E eu, claro, me sentia um imbecil. Dei o fora.

A segunda foi logo que me separei: um tenente da Força Aérea. Alta, esguia, cabelos curtinhos, e muito linda de rosto. Essa era uma loura do “Sul Maravilha” e acabara de se separar também. Acontece que ela levava a caserna muito a sério. Só falava “afirmativo”, “positivo”, “negativo”. Era irritante. E quando começou a querer me dá ordens... Fui!

A última foi minha segunda namorada, logo depois que fiquei viúvo. Era um soldado da polícia. Lindinha a danadinha. Morena de cabelos lisos e longos. Um sorriso encantador, voz melosa... Extremamente “criativa”, logo que ficamos juntos me mostrou sua coleção de “fantasias”. E no primeiro encontro se vestiu de gueixa, com um minikimono azul marinho lindíssimo. Um fundo musical sob a batuta de Kitaro, incenso com fragrância de "paixão, ela com um adornado penteado oriental - com palitinhos enfiados nos cabelos - e uma maquilagem que a deixou uma tensãozinha. No “tatame” havia saquê, bolinhos de arroz e peixe cru. Odiei aquilo, mas, para agradar... E depois ela me recebeu muito originalmente: saudou-me com um lindo e submisso “Konbanwa” (boa noite), fazendo reverência com as mãos postas. Dizia “banzai” (viva) para algo que eu fazia e ela gostava. No final um “arigato” (obrigado) acompanhado de um “sayonara” (até logo) quando sai à porta.

Tudo ia bem, até que, três meses de namoro depois, uma noite eu havia bebido um licor de maracujá que mamãe me fez, a cabeça no “mundo da lua”, inventei de pedir a ela que vestisse seu uniforme de trabalho para me “prender”. Ela não se fez de rogada. Vestiu das meias aquele “coquinho” que as militares levam na cabeça. E na cintura, todos os apetrechos e... a arma.

Começamos uma brincadeira de “caça ladrão”. E estava indo tudo maravilhosamente bem, com a “adrenalina” a mil. Logo depois de um “assalto” bem sucedido, a moça me esperou numa curva do apartamento, quando passei, ela me deu uma rasteira e nós caímos sobre uma pilha de revistas. Com agilidade de uma felina, o “soldado” pulou sobre mim, e puxando meus braços a costa me algemou. E foi aí que imediatemanente senti o cano do seu 38 comprimindo minha orelha esquerda. Em seguida, com sua doce voz ordenou:

- Você tem o direito de permanecer calado. O que disser será usando contra você no tribunal.

Nem preciso dizer que tudo de “masculino” que tem sobre mim foi à “zero” a velocidade da luz. Fiquei esperando o “estouro”. Felizmente a moça, depois de um tempo de “calmaria”, para equilibrar sua respiração, me beijou na nunca e disse:

- Ah, desculpe querido. Me pareceu tão real...

Na madrugada sai da casa dela jurando nunca mais, em minha vida, namorar mulher que calça coturno. 

(fcb/cp)

2 comentários:

  1. "Namorar mulher que calça coturno". Bem, Chico, "nunca mais namorar...mulher que calça coturno", isto abre um precedente linguístico: nunca mais namorar quem calça coturno; nunca mais namorar; ou tão somente nunca mais namorar "mulher" que calça coturno. Macabeth não morreria pelas mãos de nenhum homem nascido de mulher, segundo o feiticeiro, mas morreu pelas mãos de um homem cuja mãe foi cesarizada. Sempre a língua nos deixa uma saída, devemos cercá-la com muito cuidado. Não recue nem sinta-se acuado!

    Um Amigo

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  2. Porra, "Amigo", vc foi “profundo”... Contudo, há um detalhe, e que esse “detalhe” fique absolutamente claro: este é um texto "hétero"...

    fcb/cp

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