Vendo esses oficiais de saias do “Exército de Salve Jorge”, eu me lembrei
de que já namorei três militares.
A primeira foi bem antes de eu me casar: uma garota sargento da Marinha.
Mulata, carnuda, cabelos longos e encaracolados, alta e muito bonita. Era enfermeira.
Mas, havia um problema: as três solenidades que fomos juntos, as pessoas vendo
aquela mulher grandona, toda cheia de “fitas” nos braços - mais enfeitada que jumento de cigano - ao invés de olhar para
ela, olhavam para mim. E eu, claro, me sentia um imbecil. Dei o fora.
A segunda foi logo que me separei: um tenente da Força Aérea. Alta,
esguia, cabelos curtinhos, e muito linda de rosto. Essa era uma loura do “Sul
Maravilha” e acabara de se separar também. Acontece que ela levava a caserna
muito a sério. Só falava “afirmativo”, “positivo”, “negativo”. Era irritante. E
quando começou a querer me dá ordens... Fui!
A última foi minha segunda namorada, logo depois que fiquei viúvo. Era
um soldado da polícia. Lindinha a danadinha. Morena de cabelos lisos e longos.
Um sorriso encantador, voz melosa... Extremamente “criativa”, logo que ficamos
juntos me mostrou sua coleção de “fantasias”. E no primeiro encontro se vestiu de
gueixa, com um minikimono azul marinho lindíssimo. Um fundo musical sob a batuta de Kitaro, incenso com fragrância de "paixão, ela com um adornado penteado
oriental - com palitinhos enfiados nos cabelos - e uma maquilagem que a deixou uma tensãozinha.
No “tatame” havia saquê, bolinhos de arroz e peixe cru. Odiei aquilo, mas, para
agradar... E depois ela me recebeu muito originalmente: saudou-me com um lindo e
submisso “Konbanwa” (boa noite), fazendo
reverência com as mãos postas. Dizia “banzai” (viva) para algo que eu fazia e ela
gostava. No final um “arigato” (obrigado) acompanhado de um “sayonara” (até
logo) quando sai à porta.
Tudo ia bem, até que, três meses de namoro depois, uma
noite eu havia bebido um licor de maracujá que mamãe me fez, a cabeça no “mundo
da lua”, inventei de pedir a ela que vestisse seu uniforme de trabalho para me “prender”.
Ela não se fez de rogada. Vestiu das meias aquele “coquinho” que as militares levam
na cabeça. E na cintura, todos os apetrechos e... a arma.
Começamos uma brincadeira de “caça ladrão”. E estava indo tudo maravilhosamente
bem, com a “adrenalina” a mil. Logo depois de um “assalto” bem sucedido, a moça
me esperou numa curva do apartamento, quando passei, ela me deu uma rasteira e
nós caímos sobre uma pilha de revistas. Com agilidade de uma felina, o “soldado”
pulou sobre mim, e puxando meus braços a costa me algemou. E foi aí que imediatemanente
senti o cano do seu 38 comprimindo minha orelha esquerda. Em seguida, com sua
doce voz ordenou:
- Você tem o direito de permanecer calado. O que disser será usando
contra você no tribunal.
Nem preciso dizer que tudo de “masculino” que tem sobre mim foi à “zero”
a velocidade da luz. Fiquei esperando o “estouro”. Felizmente a moça, depois de
um tempo de “calmaria”, para equilibrar sua respiração, me beijou na nunca e
disse:
- Ah, desculpe querido. Me pareceu tão real...
Na madrugada sai da casa dela jurando nunca mais, em minha vida, namorar
mulher que calça coturno.
(fcb/cp)
"Namorar mulher que calça coturno". Bem, Chico, "nunca mais namorar...mulher que calça coturno", isto abre um precedente linguístico: nunca mais namorar quem calça coturno; nunca mais namorar; ou tão somente nunca mais namorar "mulher" que calça coturno. Macabeth não morreria pelas mãos de nenhum homem nascido de mulher, segundo o feiticeiro, mas morreu pelas mãos de um homem cuja mãe foi cesarizada. Sempre a língua nos deixa uma saída, devemos cercá-la com muito cuidado. Não recue nem sinta-se acuado!
ResponderExcluirUm Amigo
Porra, "Amigo", vc foi “profundo”... Contudo, há um detalhe, e que esse “detalhe” fique absolutamente claro: este é um texto "hétero"...
ResponderExcluirfcb/cp