segunda-feira, 22 de outubro de 2012

“BELÍSSIMA PÁGINA MUSICAL”

Antes de começar o assunto principal um preâmbulo se faz necessário: eu adoro musica brega. Brega de verdade. Não esses bregas “feito nas coxas”. Brega de cabaré mesmo, desses de 5ª categoria. Mas, calma, vou explicar direitinho como isso tudo começou.

Meu padrasto era “morto e vivo” dentro de cabaré. Pense num cara chegado uma puta. Morávamos no bairro da Quintas. De vez enquanto mamãe me obrigava a ir busca ele onde estivesse. A contra gosto lá ia eu - com 11, 12, 13, 14 anos de idade - de porta em porta de estabelecimentos de “mulheres de vida fácil” (fácil?), procurando o “cliente”, que gostava, particularmente, das boates “Meu Rico Português” e “A Oitenta”.

Dessa experiência eu tirei algumas, a meu ver, boas: eu detesto puta, cigarro, cachaça e perfume da Avon. Mas, como "contra-indicação", aprendi a gostar de música tocadas em cabaré: José Ribeiro, Genival Santos, Roberto Miller, Mauricio Reis, Carlos André, Fernando Lelis, Oswaldo Oliveira, Elino Julião, entre outros “monstros” da chamada música “brega rasgado”.

Gosto, particularmente, do arranjo musical, a introdução. Aquele som de trompete – algo parecido com bolero mexicano – soam bem dentro dos meus ouvidos. As letras, essência do romantismo, são autenticas declarações de amor. Às vezes eu arriscava botar uma ficha na coloridíssima vitrola só para curtir um clássico daqueles puteiros. Hoje, quando estou dirigindo, não raro eu me pego cantado “Só Castigo”, “Um Par de Alianças”, “A Beleza da Rosa”, “Verônica”, “Sendo Assim”, “Entre Espumas”, “Luz Negra”, entre outras.

Em 1995 um parque de diversão foi instalado bem próximo a minha casa, exatamente ali onde é hoje uma quadra de esportes por trás de um importante shopping da cidade - no bairro de Lagoa Seca. Minha filha quando ouviu o “leriado” do locutor não parou mais de “caningar” a mãe querendo conhecer as diversões anunciadas. Sabe criança como é...

Já passava das 19 horas - eu deitado em minha rede, no meu “quarto - refugio”, vendo filmes - quando Graça me avisou:

- Meu “filho”, vou levar sua filha para brincar no parque.

Calculei um tempo de 15 minutos, para que elas chegassem ao local, e sai de casa para fazer uma brincadeira com minha mulher. Nem preciso dizer que Graça, com sua fineza musical, tinha horror a bregas e afins.

Pois bem, procurei o rapaz da locução, encomendei uma música, e fiquei em um ponto estratégico esperando a reação dela.O locutor, um jovem negro chamado M. Nascimento - com um vozeirão de causar inveja a Cid Moreira - encheu o peito e disparou:

- P.R.A 8 Parque Continental, luxuosamente armado à avenida Romualdo Galvão, toca agora esta belíssima página musical, oferecida de alguém apaixonado, para um alguém que está na roda gigante, com a blusa branca e short listrado. Elino Julião canta, “Cofrinho de Amor”.

Elino, depois da belíssima introdução, iniciou os versos dizendo:

- “Você é meu céu/É minha vida/Meu peso/Minha medida/Meu cofrinho de Amor”...

O brinquedo girou e quando a cadeira com as duas passou à altura de onde eu estavaposicionado, Graça, muito séria - tentando me encontrar no meio da multidão - com o cotovelo direito apoiado no braço esquerdo, exibia em minha direção um visível e obsceno dedão...

Fui para casa correndo e fiquei aguardando as novidades como se nada tivesse acontecido. Pelo passos fortes percebi que ela vinha “furiosa”. Abriu a porta do quarto e disse:

- Fií da puta, por que você não foi oferecer música para sua mãe?
(fcb/cp)

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