sexta-feira, 10 de agosto de 2012

NATAL QUE CONHECI: PONTE DE IGAPÓ

Tendo vindo, em definitivo, morar em Natal – “cidade do já teve” como bem disse Clementino Câmara em um dos seus escritos - no ano de 1966, alcancei os últimos “suspiros” da primeira Ponte de Igapó. Aquela centenária, feita totalmente em ferro, que imponente e abandonada - castigada pela mazela da ferrugem - resiste ao tempo sobre as água do rio Potengi em direção a Zona Norte da Cidade. Construída por uma companhia inglesa - em 1913, concluída em 1915 e inaugurada em 20 de abril de 1916 – na gestão do Desembargador Ferreira Chaves, tinha uma extensão que totalizava 550 metros, com nove vãos de 50 metros e um de 70, a velha ponte teve uso até 1970, quando o então governador monsenhor Walfredo Gurgel inaugurou outra mais moderna, e menos perigosa, ao seu lado. Em um dia de domingo, do ano de 1970 – pouco antes da nova inauguração - minha mãe foi visitar uma amiga, que morava na metade do caminho entre Natal e a então distante Ceará-Mirim. E, claro, tivemos que atravessar no rio passando pelo interior da velha ponte. Meus interioranos e inquietos olhinhos se encantaram com o tamanho do emaranhado de ferros que só permitia um carro de cada vez. Ou melhor, os carros. Passavam-se uns dez, em fila indiana, para um lado, e depois, guardas - postados no alto de torres posicionadas em cada margem - acenavam bandeiras sinalizando a liberação da passagem dos que esperavam sua vez no outro lado. Apesar de pouco trânsito, era extremamente incômodo aquele rotineiro vai-e-vem.  Havia a linha férrea – o real motivo daquela construção - ao longo do centro da ponte, que era usada para a passagem dos trens que se destinavam a cidades pólos como Ceará-Mirim e Baixa Verde (atual João Câmara). E em um ponto daquele município, uma bifurcação direcionava o comboio rumo ao Oeste – Lages e Angicos, e o outro ramal seguindo na direção Norte com destino à Macau. Aquele importante meio de locomoção transportava gente, sal e tantas outras riquezas.  Depois que o “Padre” construiu, e inaugurou a Ponte “Presidente Costa e Silva” - ou simplismente Ponte de Igapó - de concreto armado, a velha, de ferro, ficou no esquecimento. Até que um dia o ódio destruidor que impera no Rio Grande do norte (Rio Grande sem Sorte) tentou destruí-la. Administradores, sem compromisso com a nossa riqueza cultural, numa canetada só, venderam aquele histórico monumento a um ferro velho estrangeiro. Mas quando os “roedores” já iam alcançando o sexto módulo da estrutura metálica - sentido Zona Norte-Natal – o comprador deu um basta na louca “carnificina”, diante das incertezas do lucro fácil.


Hoje, quem cruza as onduladas águas do rio Pontengi ainda pode ver os restos de um glorioso passado forjado em ferros. Amputada, e corroída pelo inclemente carrasco do tempo – sofrendo a mazela da ferrugem – segue firme na sua luta. Contando e preservando um pouco da História da Cidade do Natal. Entretanto, vândalos (entre eles, políticos, comerciantes e bandas de forró plastificado, entre outros) exibem suas mais diversificadas promoções em faixas – e com o aval da prefeitura que não a fiscaliza. Enquanto abriga, em suas entranhas, drogados que fantasiam o “paraíso” degustado em pedras de crack.  É perigoso ir aquele lugar onde não se descortina nenhum projeto de revitalização. Ali poderia ser feito um restaurante, por exemplo, como uma iluminação voltada para as águas do rio. Mas, não há nenhuma reforma programada para restabelecê-la como um importante ponto cultural. De visitação de alunos das escolas publica e privadas, universidades. Ou seja: não existe nada que a faça voltar a uma possível vida útil. Nenhum tipo de ação para termos, de volta a outrora importante, e bonita (sim, bonita!) ponte de Igapó.  Ainda mantenho na minha memória a letra do famoso “Carequinha do Norte” – que, nos anos 1960/70 cantava seus versos em programas sertanejos na então Rádio Cabugi - que diz: “Adeus, ponte velha de Igapó/Substituída por uma ponte melhor/.../ Aquela ponte era muito perigosa/Tantos casos se passou/ Mas, com essa ponte nova/ Nem um caso ainda se registrou...  A propósito, será que os versos do poeta decretaram a “morte” da velha ponte? - [cp]

2 comentários:

  1. Se esse ponte, fosse lá para os lados da Ponta Negra, ela já teria sido restaurada.
    Enguanto houver essa divisão socio-cultural em nossa cidade, todos nós seremos penalizados.

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  2. J. Lira, obrigado por enriquecer meu texto com essa sua verdade. Valeu! - cp

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